A Agência de Inovação (Adi), agora reformulada
nos seus objetivos e com a designação de Agência Nacional de Inovação (ANI),
S.A., estava estatutariamente destinada a ser uma Agência Tecnológica nacional,
capaz de gerar novas dinâmicas no Sistema Nacional de Inovação, transformando-o
de uma lógica marcadamente “baseada na ciência” para uma outra orientada para a
inovação.
Tem sido uma instituição que não se deu bem com a
alternância democrática, tendo a sua gestão sido excessivamente penalizada por
processos nem sempre saudáveis decorrentes da alternância entre o PS e o
PSD-CDS no poder. Assim, por exemplo, a gestão de Lino Fernandes foi altamente questionada
na praça pública com a chegada do PSD (se a memória não me atraiçoa do governo
Durão Barroso) ao poder por questões que não foram colocadas à opinião pública sob
a forma mais transparente possível. A passagem de Joaquim Borges Gouveia e sua
equipa pela Agência traduziu-se em alguma dinâmica de criação de núcleos de
inovação nas empresas e alguma aproximação às empresas, mas a transição para os
governos de Sócrates haveria de interromper essa dinâmica. O regresso de Lino
Fernandes à gestão da Adi nunca haveria de traduzir-se numa dinâmica nova
consistente e a história inacabada da sua fusão com o IAPMEI haveria de
condenar a Adi a uma menoridade de intervenção face ao racional com que havia
sido pensada.
Ora, na sua nova formulação, Agência Nacional de
Inovação S.A., a escolha pela atual maioria do Engº José Carlos Caldeira
(INESC-Porto) é de uma clarividência que constitui uma exceção valiosa na regra
de desorientação e desconchavo com que muitas das decisões são tomadas pela
atual maioria no governo. O José Carlos Caldeira (JCC) é, na minha perspetiva,
um broker tecnológico por excelência,
alguém que interpreta como ninguém as relações entre a investigação científica
e tecnológica e as empresas (interpretadas através das suas necessidades de
inovação), alguém que é capaz de perceber a relevância do conhecimento científico
e tecnológico mas que conhece bem a trajetória por vezes penosa que esse
conhecimento irá seguir até transformar-se em valor nas empresas. A sua
passagem para a direção do INESC-Porto foi decisiva e rapidamente a Comissão
Europeia (DG Regio) compreendeu a sua valia nesse estatuto, convidando-o para
perito europeu nos domínios das estratégias regionais de especialização
inteligente. Assistiu tecnicamente neste estatuto a Galiza na conceção da sua
estratégia regional de especialização inteligente.
Para além disso, JCC dinamizou energicamente o fórum
Manufuture em Portugal, que haveria
de dar origem ao pólo de competitividade das tecnologias de produção, um cluster de grande transversalidade na indústria
transformadora portuguesa. Graças à sua ação e à sua incansável intervenção, a
Comissão Europeia (DG Empresa e DG Research) passaram a ter um interlocutor
respeitado em Portugal, coisa que nunca tinha acontecido até então.
A sua escolha para dirigir uma renovada Adi,
agora ANI S.A., permite antecipar algumas expectativas quanto ao papel que a Agência
irá exercer na transformação necessária do Sistema Nacional de Inovação. Dificilmente
seria possível escolher alguém com tanta capacidade para o fazer a partir das
empresas e estabelecer a ligação necessária com o potencial de investigação
nacional.
O facto desta escolha ter sido cooptada pelo Secretário
de Estado da Inovação Investimento e Competitividade e pela Secretária de
Estado da Ciência constitui uma boa nova. A clarividência desta decisão peca
por tardia e sobretudo por ter tão reduzidas réplicas neste governo.
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