terça-feira, 23 de setembro de 2014

UMA ÓTIMA ESCOLHA



A Agência de Inovação (Adi), agora reformulada nos seus objetivos e com a designação de Agência Nacional de Inovação (ANI), S.A., estava estatutariamente destinada a ser uma Agência Tecnológica nacional, capaz de gerar novas dinâmicas no Sistema Nacional de Inovação, transformando-o de uma lógica marcadamente “baseada na ciência” para uma outra orientada para a inovação.
Tem sido uma instituição que não se deu bem com a alternância democrática, tendo a sua gestão sido excessivamente penalizada por processos nem sempre saudáveis decorrentes da alternância entre o PS e o PSD-CDS no poder. Assim, por exemplo, a gestão de Lino Fernandes foi altamente questionada na praça pública com a chegada do PSD (se a memória não me atraiçoa do governo Durão Barroso) ao poder por questões que não foram colocadas à opinião pública sob a forma mais transparente possível. A passagem de Joaquim Borges Gouveia e sua equipa pela Agência traduziu-se em alguma dinâmica de criação de núcleos de inovação nas empresas e alguma aproximação às empresas, mas a transição para os governos de Sócrates haveria de interromper essa dinâmica. O regresso de Lino Fernandes à gestão da Adi nunca haveria de traduzir-se numa dinâmica nova consistente e a história inacabada da sua fusão com o IAPMEI haveria de condenar a Adi a uma menoridade de intervenção face ao racional com que havia sido pensada.
Ora, na sua nova formulação, Agência Nacional de Inovação S.A., a escolha pela atual maioria do Engº José Carlos Caldeira (INESC-Porto) é de uma clarividência que constitui uma exceção valiosa na regra de desorientação e desconchavo com que muitas das decisões são tomadas pela atual maioria no governo. O José Carlos Caldeira (JCC) é, na minha perspetiva, um broker tecnológico por excelência, alguém que interpreta como ninguém as relações entre a investigação científica e tecnológica e as empresas (interpretadas através das suas necessidades de inovação), alguém que é capaz de perceber a relevância do conhecimento científico e tecnológico mas que conhece bem a trajetória por vezes penosa que esse conhecimento irá seguir até transformar-se em valor nas empresas. A sua passagem para a direção do INESC-Porto foi decisiva e rapidamente a Comissão Europeia (DG Regio) compreendeu a sua valia nesse estatuto, convidando-o para perito europeu nos domínios das estratégias regionais de especialização inteligente. Assistiu tecnicamente neste estatuto a Galiza na conceção da sua estratégia regional de especialização inteligente.
Para além disso, JCC dinamizou energicamente o fórum Manufuture em Portugal, que haveria de dar origem ao pólo de competitividade das tecnologias de produção, um cluster de grande transversalidade na indústria transformadora portuguesa. Graças à sua ação e à sua incansável intervenção, a Comissão Europeia (DG Empresa e DG Research) passaram a ter um interlocutor respeitado em Portugal, coisa que nunca tinha acontecido até então.
A sua escolha para dirigir uma renovada Adi, agora ANI S.A., permite antecipar algumas expectativas quanto ao papel que a Agência irá exercer na transformação necessária do Sistema Nacional de Inovação. Dificilmente seria possível escolher alguém com tanta capacidade para o fazer a partir das empresas e estabelecer a ligação necessária com o potencial de investigação nacional.
O facto desta escolha ter sido cooptada pelo Secretário de Estado da Inovação Investimento e Competitividade e pela Secretária de Estado da Ciência constitui uma boa nova. A clarividência desta decisão peca por tardia e sobretudo por ter tão reduzidas réplicas neste governo.

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