Uma pequena reflexão iniciada na noite de ontem inspirada pelo ponto final da Quadratura do Círculo da passada quinta-feira e hoje retomada.
Pacheco Pereira antecipou no programa a sua
poderosa crónica de hoje no Público em torno do referendo na Escócia e do que
ele representa, independentemente do Sim ou do Não, em termos da força da história,
quando ela é construída sob o signo da liberdade democrática. Por aí se
desmonta o discurso da inevitabilidade e da exiguidade das soluções para a
transformação do nosso futuro.
A clara divisão dos Escoceses mostra que, apesar
de todos os riscos referendários, a liberdade democrática de expressão dos
povos quanto não é refreada continua a revelar um potencial de transformação que
deve estar sempre presente nas nossas cogitações sobre as margens de
transformação possível. 86% de participação democrática determinaram que,
apesar do Não, a descentralização no Reino Unido não será jamais a mesma e que,
provavelmente, o referendo escocês irá determinar um novo estádio de “devolution” na organização do Estado e na sua relação com
as aspirações dos membros da União.
Pacheco Pereira chama-lhe “um abanão na Europa
estabelecida, vindo da história, ou seja, da surpresa, da vida, da liberdade” e
esta expressão clarifica-me o espírito e a reflexão sobre o acantonamento e estreitamento
de soluções a que os diretórios europeus nos conduziram. Definitivamente, o
posicionamento de um Europeísta no Portugal medíocre e medroso de hoje só pode
consistir na defesa do escrutínio democrático alargado de todos os passos da
construção europeia, combatendo ferozmente a pretensa sagacidade dos iluminados
que não nos cansam de vender a inevitabilidade das coisas e por aí furtam o
desenvolvimento dos processos ao motor da liberdade democrática.
Há momentos em que a sagacidade das manifestações
democráticas supera a esperteza tática dos diretórios que constroem a
estreiteza das soluções à medida dos seus próprios interesses. Portugal teve
esse momento com a espantosa reação social à tentativa de imposição da TSU que
transferia diretamente rendimento de quem trabalha para os detentores de
capital. Também ninguém nesse momento anteciparia a força de uma reação daquela
magnitude. Ora, ninguém interagiu ativamente com aquela espontaneidade. A
maioria dos diretórios políticos nacionais reagiu aquela demonstração de
vitalidade com medo de perder o pé e o controlo dos seus apaniguados. Por isso
foi rapidamente desvalorizada e transferida para o lugar dos acidentes circunstanciais.
A demonstração e defesa da vitalidade da força
democrática da história que atravessa a crónica de Pacheco Pereira não tem
hoje, na minha modesta opinião, tradução política na estrutura partidária existente
e na renovação que para ela se anuncia. Mas isso não significa que a ela não
adiramos.
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