sábado, 20 de setembro de 2014

A FALSA INEVITABILIDADE



Uma pequena reflexão iniciada na noite de ontem inspirada pelo ponto final da Quadratura do Círculo da passada quinta-feira e hoje retomada.
Pacheco Pereira antecipou no programa a sua poderosa crónica de hoje no Público em torno do referendo na Escócia e do que ele representa, independentemente do Sim ou do Não, em termos da força da história, quando ela é construída sob o signo da liberdade democrática. Por aí se desmonta o discurso da inevitabilidade e da exiguidade das soluções para a transformação do nosso futuro.
A clara divisão dos Escoceses mostra que, apesar de todos os riscos referendários, a liberdade democrática de expressão dos povos quanto não é refreada continua a revelar um potencial de transformação que deve estar sempre presente nas nossas cogitações sobre as margens de transformação possível. 86% de participação democrática determinaram que, apesar do Não, a descentralização no Reino Unido não será jamais a mesma e que, provavelmente, o referendo escocês irá determinar um novo estádio de “devolution na organização do Estado e na sua relação com as aspirações dos membros da União.
Pacheco Pereira chama-lhe “um abanão na Europa estabelecida, vindo da história, ou seja, da surpresa, da vida, da liberdade” e esta expressão clarifica-me o espírito e a reflexão sobre o acantonamento e estreitamento de soluções a que os diretórios europeus nos conduziram. Definitivamente, o posicionamento de um Europeísta no Portugal medíocre e medroso de hoje só pode consistir na defesa do escrutínio democrático alargado de todos os passos da construção europeia, combatendo ferozmente a pretensa sagacidade dos iluminados que não nos cansam de vender a inevitabilidade das coisas e por aí furtam o desenvolvimento dos processos ao motor da liberdade democrática.
Há momentos em que a sagacidade das manifestações democráticas supera a esperteza tática dos diretórios que constroem a estreiteza das soluções à medida dos seus próprios interesses. Portugal teve esse momento com a espantosa reação social à tentativa de imposição da TSU que transferia diretamente rendimento de quem trabalha para os detentores de capital. Também ninguém nesse momento anteciparia a força de uma reação daquela magnitude. Ora, ninguém interagiu ativamente com aquela espontaneidade. A maioria dos diretórios políticos nacionais reagiu aquela demonstração de vitalidade com medo de perder o pé e o controlo dos seus apaniguados. Por isso foi rapidamente desvalorizada e transferida para o lugar dos acidentes circunstanciais.
A demonstração e defesa da vitalidade da força democrática da história que atravessa a crónica de Pacheco Pereira não tem hoje, na minha modesta opinião, tradução política na estrutura partidária existente e na renovação que para ela se anuncia. Mas isso não significa que a ela não adiramos.

Sem comentários:

Enviar um comentário