Não vão muito longe os tempos em que Jordi Pujol funcionava como uma espécie de role model para todos quantos sentiam na pele ou de perto os males e as perversões do centralismo. Obviamente que também nós, aqui no Porto e a norte de Portugal, olhávamos com alguma inveja para uma Barcelona capital de uma Catalunha onde imperava um partido nacionalista (Convergència Democràtica de Catalunya) cujo presidente era uma voz democraticamente irrefutável – Pujol foi sucessivamente eleito, desde 1980 e por seis vezes consecutivas, para liderar durante 23 anos a Generalitat – e incontornável quanto ao sentido dos destinos da Comunidade Autónoma.
Pujol retirou-se em 2003 e quis o acaso que por essa mesma ocasião eu tenha tido algumas responsabilidades profissionais que me levaram a passar com certa frequência por Barcelona e à correspondente oportunidade de aceder a alguns meandros da sociedade catalã e a um melhor conhecimento das suas elites. Buscava-se então por lá uma difícil readaptação na sequência da orfandade relativamente a um “pai” que sempre estivera muito presente e ao leme, designadamente através da defensiva criação de uma federação de partidos nacionalistas (Convergència i Unió, CIU) e com o Partit dels Socialistes de Catalunya (de Maragall e Montilla) no poder. Confessarei, para ser breve e explícito, que foi então que pela primeira vez senti alguns leves abanões nas minhas convicções regionalistas, hoje cada vez mais repartidas entre coração e razão.
Os incidentes a que presentemente temos vindo a assistir em torno de Pujol, com acusações graves de fraude fiscal à mistura, estão necessariamente em linha com as evoluções atrás referidas e que conduziram ao regresso dos nacionalistas (através da CIU) ao comando político durante a plenitude dos efeitos de uma crise económica (2010) cuja enormidade de implicações negativas encontraria campo fértil nas reivindicações e iniciativas pró-independentistas de Artur Mas. Sem prejuízo do gigantesco e genuíno fervor cidadão...
Esta é, pois, uma matéria sobre a qual as certezas deram lugar a um reinado das interrogações e em que as ideias e argumentos carecem de um profundo refrescamento. E a pergunta mais pertinente é a seguinte: qual poderá e deverá ser a saída última desejável para as imensas e variadas tensões entre o infranacional e o supranacional que cada vez mais nos desafiam e envolvem?
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