segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PUJOLADAS OU PUNHALADAS?



Não vão muito longe os tempos em que Jordi Pujol funcionava como uma espécie de role model para todos quantos sentiam na pele ou de perto os males e as perversões do centralismo. Obviamente que também nós, aqui no Porto e a norte de Portugal, olhávamos com alguma inveja para uma Barcelona capital de uma Catalunha onde imperava um partido nacionalista (Convergència Democràtica de Catalunya) cujo presidente era uma voz democraticamente irrefutável – Pujol foi sucessivamente eleito, desde 1980 e por seis vezes consecutivas, para liderar durante 23 anos a Generalitat – e incontornável quanto ao sentido dos destinos da Comunidade Autónoma.

Pujol retirou-se em 2003 e quis o acaso que por essa mesma ocasião eu tenha tido algumas responsabilidades profissionais que me levaram a passar com certa frequência por Barcelona e à correspondente oportunidade de aceder a alguns meandros da sociedade catalã e a um melhor conhecimento das suas elites. Buscava-se então por lá uma difícil readaptação na sequência da orfandade relativamente a um “pai” que sempre estivera muito presente e ao leme, designadamente através da defensiva criação de uma federação de partidos nacionalistas (Convergència i Unió, CIU) e com o Partit dels Socialistes de Catalunya (de Maragall e Montilla) no poder. Confessarei, para ser breve e explícito, que foi então que pela primeira vez senti alguns leves abanões nas minhas convicções regionalistas, hoje cada vez mais repartidas entre coração e razão.

Os incidentes a que presentemente temos vindo a assistir em torno de Pujol, com acusações graves de fraude fiscal à mistura, estão necessariamente em linha com as evoluções atrás referidas e que conduziram ao regresso dos nacionalistas (através da CIU) ao comando político durante a plenitude dos efeitos de uma crise económica (2010) cuja enormidade de implicações negativas encontraria campo fértil nas reivindicações e iniciativas pró-independentistas de Artur Mas. Sem prejuízo do gigantesco e genuíno fervor cidadão...

Esta é, pois, uma matéria sobre a qual as certezas deram lugar a um reinado das interrogações e em que as ideias e argumentos carecem de um profundo refrescamento. E a pergunta mais pertinente é a seguinte: qual poderá e deverá ser a saída última desejável para as imensas e variadas tensões entre o infranacional e o supranacional que cada vez mais nos desafiam e envolvem?

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