A grande manifestação que levou hoje à Diagonal e
à Gran Via, em Barcelona, pelo menos quinhentas mil pessoas, números do governo
nacional do PP, por isso talvez subavaliados, coincide com um dos momentos mais
amargos do independentismo catalão. Um momento caracterizado por contradições
prestes a romper o equilíbrio político instável que tem suportado já há alguns
anos o catalanismo.
Primeiro, a evidência trazida dura e cruamente
pela queda do mito Pujol, mostrando que por detrás do domínio político da CiU
está a inevitável degradação do poder e os tentáculos nacionalistas da corrupção,
não sob a forma do imposto revolucionário, mas pela via de uma rede de luvas
que vai sendo conhecida.
Segundo, porque o tema da ilegalidade
constitucional do referendo vai acabar por romper o frágil equilíbrio político
das forças que suportam o nacionalismo, com os mais radicais a exigirem a
realização da consulta mesmo estando declarada a sua inconstitucionalidade.
Por isso, a força da manifestação de hoje, não
importa se mais ou menos intensa do que a observada no ano passado, acaba por não
ter uma materialização política consequente e corre um de dois riscos: a emergência
de uma deceção gigantesca, com consequências prováveis de inação social; a emergência
de um radicalismo dificilmente reorientável para projetos de governação.
Assim, ironicamente, o V gigantesco que a
Diagonal e a Gran Via hoje formaram não será provavelmente um V de Vitória, mas
mais de uma Vontade que pode evoluir rapidamente para um Vazio. Ainda por
ironia e para permanecermos sob o signo dos VVV, se isso acontecer o
nacionalismo histórico de cidades como VIC será sublimado no quadro de um localismo
exacerbado, de fortíssima raiz identitária e profunda resistência cultural.
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