quarta-feira, 10 de setembro de 2014

BOA MOEDA OU MÁ MOEDA



O nome de Carlos Moedas presta-se a estes trocadilhos e agora que se conhece o pelouro da Comissão Europeia que lhe foi atribuído, a Investigação, Ciência e Inovação, as apreciações têm-se dividido quanto ao alcance da decisão.
Quando se consulta a estrutura da governação do colégio de comissários desarrincada por Juncker, num puzzle que se acredita não ter sido fácil de compor, é fácil perceber que do ponto de vista das relações de poder percecionadas pela dimensão e natureza das pastas, Carlos Moeda fica de fora do núcleo mais restrito. Terá de reportar por essa via não diretamente a Juncker, mas antes à ex-primeira ministra Eslovena que não terá vida fácil na sua apresentação no Parlamento Europeu, mas que coordenará seis comissários. Sob este ponto de vista, poderá dizer-se que Carlos Moedas não evidenciou peso político suficiente para contrariar o baixo efeito-País de que Portugal é portador, apesar da rábula de aluno disciplinado que a governação da maioria teima em continuar a assumir (veja-se a figurinha de Passos Coelho na Grécia, já comentada pelo meu colega de blogue).
Mas há que convir que, deixando agora de lado a hierarquia e a estrutura de coordenação do colégio de comissários, face à qual o comissário português tem uma posição menor, o domínio da investigação, ciência e inovação não equivale a uma pasta qualquer. É uma questão fundamental para a coesão europeia. O elevado financiamento comunitário para estas matérias pode constituir um elevado fator de divergência entre países e regiões de fronteira tecnológica, mais propensos e capacitados para aproveitar esse financiamento, e os países seguidores para os quais é fundamental manter um ritmo elevado de convergência. O modo como o comissário responsável pela pasta exercer esse mandato numa linha de pelo menos não agravar o fosso entre a fronteira e os seguidores constituirá um tema crucial para a coesão europeia. O programa HORIZON não é coisa menor. Nessa perspetiva, Moedas tem espaço para ganhar peso na concertação europeia, acaso tenha unhas para isso.
Resumindo, a nomeação de Moedas não constituiu o vendaval que se esperaria para a atual maioria, que terá escapado por entre os pingos da chuva. Estou curioso para ler o que a nossa super candidata Maria João Rodrigues terá a dizer sobre tudo isto.

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