terça-feira, 16 de setembro de 2014

ECONÓMICA SERÁ, JÁ CIÊNCIA...

(David Simonds, http://www.theguardian.com)

É claro que há uma racionalidade subjacente à lógica comportamental dos chamados “mercados”. Só que não é aquela racionalidade dos “fundamentais” que os ortodoxos teóricos do mainstream da Ciência Económica insistem em atirar para cima de nós como areia para os olhos. Vejamos dois exemplos europróximos que disso são bem demonstrativos.

A começar, um registo do que tem vindo a ser a evolução recente das yields das obrigações governamentais nos dois grandes países da Zona Euro, evidenciando os mesmos uma acentuada e generalizada queda para níveis já quase nulos ou mesmo negativos – afinal, e contra o que nos vendem os nossos queridos líderes Passos, Portas, Albuquerque e Pires (PPAP), as evoluções milagrosas do pós-Troika também se estão a verificar nos países por onde ela não passou e em que parece ausente a influência de tais excelências sobre a formação das taxas de juros nos mercados.

Mais ainda: uma comparação entre os défices públicos da França e da Alemanha (gráficos abaixo) não deixa quaisquer dúvidas quanto à larga dissociação existente entre os valores observados pelas variáveis macroeconómicas essenciais (no caso o défice público, com os alemães a virem de mais de 4% em 2010 para níveis de equilíbrio ou excedente após 2012 e os franceses a manterem-se e a prometerem manter-se consistentemente acima dos 4%) e aqueles custos de financiamento internacional dos países em causa.



Por outro lado, o sublinhado da cada vez mais estranha situação que se vive na Zona Euro. É que já não é apenas a trajetória das yields que se observa no tocante à dívida obrigacionista de Alemanha e França, assim como de outras economias importantes da moeda única (Áustria, Bélgica, Finlândia e Holanda): já baixíssimas ou mesmo negativas em alguns prazos mais curtos, significando assim que os credores estão dispostos a pagar para deter tais títulos em carteira, ou seja, que a dívida soberana tida por segura se apresenta, nas atuais condições impostas pelo BCE em termos de taxas diretoras, como um quase sucedâneo da detenção de reservas.

É também, e ainda mais estranhamente, o comportamento de várias yields relativas a países com fragilidades e dificuldades reconhecidas – como a Irlanda, a Espanha ou a Itália –, atingindo mínimos históricos e níveis inferiores aos registados para os treasuries americanos (e até, em certos casos, para os gilts britânicos); vejam-se abaixo, e sucessivamente, a manifestação de perplexidade por parte de uma especialista entrevistada por Jorge Nascimento Rodrigues para o “Expresso”, um recente título da “Bloomberg” salientando que os investidores dos dias de hoje já pagam para emprestar dinheiro a dois anos a um país (Irlanda) que foi objeto de resgate há quatro e, por fim, um quadro expressivo que apresenta os valores de fecho de ontem dos prémios de risco numa comparação entre dez países da Zona Euro e os Estados Unidos (sendo de notar, e peço novamente a atenção dos queridos líderes PPAP, que já só nós e a Grécia estamos a proporcionar remunerações inferiores às americanas).

Racionalidade, qual racionalidade? Ciência, qual ciência?



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