Os resultados das colocações na primeira fase de
acesso ao ensino superior, hoje publicados na comunicação social, devem
constituir um motivo de reflexão profunda sobre alguns efeitos perversos do
comportamento da economia portuguesa nos últimos quatro anos.
Num primeiro relance, detive-me sobretudo nos
dados respeitantes à engenharia civil, um dos cursos mais estruturantes da formação
superior em termos de conteúdo de formação de base. Como é óbvio, já se
esperava uma retração da procura na sequência do comportamento do setor da
construção civil pós crise financeira e austeridade orçamental e do
comportamento associado do mercado de trabalho que se traduz em perspetivas
anunciadas de diáspora para muitos dos engenheiros civis jovens e não só estes.
Mas os resultados da primeira fase estão para além
das expectativas mais sensatas.
Alguns números:
- Instituto Superior Técnico: Vagas 150 – colocações 82;
- Faculdade de Engenharia do Porto: Vagas 140 – colocações 50;
- Universidade de Aveiro – Vagas 35 – colocações 0;
- Universidade da Beira Interior – Vagas 30 – colocações 1
- Universidade do Minho – Vagas 50 – colocações 5
- Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro – Vagas 30 – colocações 0;
- Instituto Superior de Engenharia do Porto – IPP – Vagas 80 – colocações 0
- Instituto Superior de Engenharia de Lisboa – 80 vagas, 4 colocações 4;
·
E muitos outros.
Num contexto de gestão fortemente prudencial de
vagas, as famílias e os jovens portugueses decidiram massivamente que a
engenharia civil dominantemente não lhes interessa, provavelmente porque não
estarão a ver-se na emigração para aplicar os seus conhecimentos.
Por que razão invoco aqui a hipótese de efeitos
perversos dinâmicos?
Podemos estar a falar de uma falha de mercado
meramente conjuntural que não tenha repercussões estruturais na oferta de
engenheiros civis em Portugal. Mas os números com dois ou três anos de repetição
tenderão a influenciar estruturalmente as preferências dos jovens e famílias
portugueses. Como é óbvio não há país que possa prescindir de rejuvenescimento
dos engenheiros civis. A verificar-se essa possibilidade, teremos mais um
exemplo de efeito perverso dinâmico do modelo de gestão da crise na economia
portuguesa.
Darei atenção em próximos posts ao panorama
global das engenharias, esperando não encontrar panoramas similares.
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