segunda-feira, 24 de novembro de 2014

AINDA ESTÁ AÍ ALGUÉM? (BIS)


Volto ao tema do momento. Insistente, assoberbante, triturante. Mas também incontornável, doloroso, revelador. Enquanto a PGR produz comunicados estéreis e as forças policiais usufruem do aparato que lhes toleram, enquanto a comunicação social espreita e devassa e os comentadores falam falam falam, enquanto Portas se refugia na escuridão dos seus submarinos e o tecnofórmico Passos não contem o júbilo com que declara que “não somos todos iguais”, enquanto António Costa encaixa condignamente este soco no estômago e procura impor ao PS mais uma digestão difícil, é com a maior das vénias que reproduzo o texto dos “Sinais” com que Fernando Alves nos brindou esta manhã: “Talvez possas, entretanto, pousar a câmara, aliviando o peso da editorial vertigem no ombro. Já vimos tantas vezes o vulto, nem sequer esquivo, na nesga de vidraça do Campus da Justiça. Já ouvimos o chiar dos travões e as sirenes dos carros policiais. Já quase fixamos as matrículas, tapadas num canal, escancaradas noutro, e as bandeiras da extrema-direita e aquele ‘até que enfim’ que é da ordem da pura desforra. Aquele ‘até que enfim’ já pedia desforra muito antes dos indícios, que se alimenta da insídia – é um insidioso indício aquele ‘até que enfim’. Também não foi bonito, porque é ainda da ordem da desforra, o ‘aleluia’ gritado no vão eletrónico, mesmo se gritado de vão a vão, de malta a malta porque, ainda que exultando no esconso vão eletrónico, é um deputado quem em nome da citada malta de Mação apregoa tão implacável tributo justiceiro. E é um magistrado, por acaso maçaense, quem interroga o vulto nem sequer esquivo que a tua câmara persegue. Um magistrado deste gabarito não tem que perdoar, tem apenas que cumprir a lei. Do mesmo modo, o teu ombro transporta o peso da câmara e o da editorial vertigem, a obsessão da fugacidade; rapidez, velocidade é o que te pedem, olhar de lince sobre o alvo fugaz, sobre o efémero, o transitório, o espetacular quase nada que por vezes indicia a insídia, a fugacidade, a fuga veloz para diante, para um dos outros de igual peso ao ombro que também convergem. Talvez possas, ao quarto dia, pousar um pouco a câmara. O homem não foge. O que pode escapar-se-nos diante dos teus e dos meus olhos, diante dos nossos olhos, são velhas regras, velhas balizas não apenas de uma profissão nobre, do que nelas faz ponte com a cidadania, com os códigos de civilização. Talvez possas, entretanto, pousar a câmara, esperando que da casa da Justiça surja finalmente uma palavra clara.”

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