Hoje é segunda-feira e podia falar-vos de Isabel,
a Católica, em torno da segunda edição da série da TVE, Isabel, toda ela focada
nos Reis Católicos de Espanha, talvez um exercício despretensioso de televisão
pública, mas que nos permite reviver aspetos da história da Ibéria que nos foi
ministrada de modo excessivamente segmentado. Já aqui mencionei que se trata de
um bom contributo do serviço público de televisão espanhola, agora com edição
em Portugal da primeira série com legendagem em português, imagine-se na SIC
Caras.
Mas o foco está noutra Isabel, dos tempos
modernos, dos Santos, mais propriamente a intrépida empresária angolana, que
emergiu no mundo dos negócios segundo um modelo de acumulação primitiva adotado
em Angola para lançar as bases do mercado e da sua internacionalização. Todo o
modelo de capitalismo teve a sua acumulação primitiva. Angola escolheu este e é
o fruto desse modelo que ocupa o espaço da fragilidade congénita do capital em
Portugal.
Pois por ironia da história, perante os pungentes
pedidos de resgate da PT, ninguém tugiu, nem mugiu a não ser o propósito de OPA
da PT SGPS apresentado pela muito recente empresa através da qual Isabel dos
Santos se apresenta para barrar o caminho à estratégia brasileira em curso de
despachar quanto antes o que resta do nosso projeto de empresa global para as
telecomunicações. As condições viabilizadoras do êxito da operação que a própria
Isabel dos Santos coloca são de molde a desconfiar da sua real vontade em
prosseguir com a operação e o próprio valor de aquisição proposto pode também não
assegurar perspetivas suficientemente atrativas.
O Professor Marcelo já dá de barato que o mau é
preferível ao péssimo e que a solução Angola (presume-se que articulada com a
SONAE) é preferível a soluções de venda a operadores fora da órbita do setor
das telecomunicações.
Mas aqui o que interessa registar é a penúria do
capital português disponível, o que torna ainda mais patéticos e pungentes
todas as tomadas de posição salvíficas que têm emergido nos últimos dias. Parece
que há muita gente ainda sem compreender que o futuro produtivo do país está
hoje praticamente dependente do seu sistema de PME, de que uma das características
mais aterradoras é a sua baixa autonomia financeira e forte dependência do crédito
bancário.
Nos dias que correm, mais pungente, patético e
descolado do real só a tomada de posição do Partido Comunista Português sobre
os 25 anos da queda do muro de Berlim, vertida em editorial do Avante. O desvio
da realidade é tão forte e patético que pela primeira vez não me choca reproduzir
esta passagem do Avante a partir do Macroscópio de José Manuel Fernandes no
Observador: “Mais
do que a ‘queda do muro de Berlim’ o que as forças da reacção e da
social-democracia celebram é o fim da República Democrática Alemã (RDA), é a
anexação (a que chamam de ‘unificação’) da RDA pela República Federal Alemã
(RFA) com a formação de uma ‘grande Alemanha’ imperialista, é a derrota do
socialismo no primeiro Estado alemão antifascista e demais países do Leste da
Europa e, posteriormente, a derrota do socialismo na URSS.”
Santas e sagradas múmias paralíticas
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