domingo, 9 de novembro de 2014

COMPROVANDO UM IMPASSE...


Regresso ao Porto. Sempre com aquela sensação bem agradável quanto à utilidade de passar por fora, seja para ler melhor o que por lá vai sucedendo seja para contextualizar devidamente o que por cá vai ocorrendo.

Nesta última passagem por Bruxelas surgiu-me a oportunidade de participar na conferência “Finance for Growth”, organizada em parceria pela Comissão e pela Presidência Italiana do Conselho (programa acima). A expectativa era muita, quer por ser a primeira aparição pública em funções do novo comissário Hill quer pela presença de muitos notáveis europeus do setor quer ainda por surgirem juntos no último e conclusivo painel quatro ministros das Finanças (italiano, francês, holandês e polaco). Mas o balanço final acabou por ser largamente dececionante.

Vamos por partes. Quanto a Hill, trata-se de um sujeito simpático e muito bem falante – começou até com uma laracha fina que aludia ao facto de ir pela primeira vez produzir um discurso em Bruxelas sem receber uma nota no fim – e que, estando nitidamente a iniciar a sua aprendizagem on job, quis explicitamente saudar o trabalho realizado por uma nossa eurodeputada (que integrou o primeiro painel com Ana Botín e Danièle Nouy) no delivering da União Bancária. Coube-lhe ainda anunciar aquela que será a dama do seu mandato: o longínquo (digo eu) objetivo de uma União de Mercados de Capitais, definida como a nova fronteira do mercado único europeu e com roadmap prometido para o Verão de 2015 – já completar o que falta da União Bancária (um esquema único de garantia de depósitos) há de ver-se...


Quanto ao mood geral do setor, alguma ênfase, mais ou menos corporativa (embora com algumas razões de ser), para a necessidade de prosseguir esforços no sentido da recuperação da sua credibilidade, de reequacionar o volume de legislação regulatória provocado pela crise e de evitar algumas das maiores ameaças da atual agenda legislativa ao negócio dos principais bancos europeus (como é, designadamente, o caso dos termos concretos de uma mais clara separação entre banca de retalho e banca de investimentos). Com o eterno Jacques de Larosière a perguntar o que se está realmente a fazer para restaurar a poupança de longo prazo e incentivar a formação de capital e uns poucos a chamarem a atenção para o facto de, complementarmente ao foco na oferta, ser também tida em conta a componente da procura e dos meios de assegurar a sua sustentabilidade.

Finalmente, e quanto à dimensão política, um flop bem ilustrativo da Europa dos nossos dias: parole parole, como dizia a velha canção italiana – Dijsselbloem foi um zero à esquerda; Szczurek aflorou a falta de capital como o maior problema europeu e sugeriu a criação a tal vocacionada de mais um Fundo; Michel Sapin optou pelo uso de trocadilhos acerca de franceses e alemães, os primeiros acusados de prometerem mexer e não o fazerem (je bouge, je gouge et ne bougent pas) mas agora em vias de o irem fazer pela mão de Hollande (!) e os segundos acusados de nunca quererem mexer (je ne bouge pas, je ne bouge pas) e agora em vias de o irem fazer, igualmente sob a marcante influência do mesmo Hollande (pois claro!); já o anfitrião, Pier Carlo Padoan, foi perfeito em nada dizer e em com nada se comprometer, preferindo entreter a audiência com falas sobre os vários “novos” que nos entornam (uma nova normalidade, um novo balanço e uma nova fronteira); e foi uma jornalista do “Wall Street Journal” quem, na fase de perguntas e respostas, melhor resumiu o painel: “até que ponto podem ser mais concretos?”...

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