segunda-feira, 3 de novembro de 2014

DIÁRIO ECONÓMICO


O “Diário Económico” fez 25 anos a 30 de outubro e deve ser felicitado por isso, sendo talvez a forma mais adequada fazê-lo na pessoa do jornalista António Costa que hoje ocupa o cargo de diretor, embora não devam ser esquecidos os seus vários antecessores (consigo recordar-me, julgo que por ordem cronológica inversa, de André Macedo, Martim Avilez Figueiredo, Miguel Coutinho, Sérgio Figueiredo, Nicolau Santos e Jaime Antunes) e, dentro destes, aqueles dois (Sérgio e Nicolau) que por lá mais fizeram verdadeiramente escola – o que está, aliás, hoje à vista na carreira de alguns dos melhores profissionais da nova geração – e aquele outro (Miguel Coutinho) que era diretor quando por lá assinei uma coluna semanal (“Da Outra Margem”) à vez com o Nuno Gaioso Ribeiro.

Mas o meu ponto é outro: é que decidiram os responsáveis pelo jornal festejar o seu quarto de século com uma edição especial em que incluíram uma peça principal subordinada ao lead “Quem são os portugueses mais marcantes dos últimos 25 anos”, considerando que eles “ajudam a fazer um retrato do país, da sua história e do seu impacto global”. Talvez que assim seja no final das contas, mas não quero deixar de resistir à visão eminentemente pouco criteriosa e novo-riquista que subjaz às escolhas feitas (as caras são as da imagem acima reproduzida).

Desde logo, e não se percebe minimamente por que carga de água, o que poderá justificar a eleição de 8 empresários, 5 gestores e 4 banqueiros contra apenas 2 políticos, 2 economistas e 4 de outras áreas? Depois, como aceitar a mistura de bons com maus, de regras de vida e trabalho com influências e impactos asseticamente assumidos, de inovações profundas com mudanças regressivas? Enfim, uma salgalhada!

Mas há pior. Daqueles 17 do primeiro e excessivo grupo de empresários, gestores e banqueiros escolhidos como mais marcantes dos últimos 25 anos constam nomes tão suspeitos como Ricardo Salgado, Jardim Gonçalves e Zeinal Bava, estrangeirados tão desgarrados como Carlos Tavares e Horta Osório ou jovens de carreira tão paternalmente protegida como Paulo Azevedo! Sendo que a nomeação de António Mota e Pedro Queiroz Pereira, para apenas citar os mais óbvios de entre os donos do capital, é tudo menos pacífica no quadro de um bouquet que evidencia à saciedade a pequenez mais que quaternária do dependente capitalismo português (apesar dos méritos de Belmiro, Amorim e até de Soares dos Santos ou Nabeiro) e a mania nacional de desvalorizar os sucessos da iniciativa de menor dimensão ou alternativa. Na política, Soares e Cavaco claro que sim, para o bem e para o mal respetivamente, mas onde param Sampaio, Durão, Guterres e Sócrates, para não ir muito longe? E que dizer de Vítor Gaspar e Isabel Jonet como figuras deste nosso quarto de século, deixando de fora Sousa Franco, Mariano Gago, Jaime Gama, Leonor Beleza, Sobrinho Simões, Adriano Moreira, António Barreto, Manoel de Oliveira, Eduardo Souto de Moura, Paula Rego ou José Mourinho, já para não falar do omnipresente Daniel Proença de Carvalho e de figurões tão dificilmente contornáveis quanto Passos e Portas, Santana e Rio ou Marcelo e Marques Mendes? Fico-me por aqui antes que dispare incontidamente este estado depressivo que em mim se começa a instalar...

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