quarta-feira, 26 de novembro de 2014

ESTÍMULOS, ESTÍMULOS, É QUEM MAIS FALA DELES!




Krugman pega no tema e proclama que Keynes está lentamente a ganhar, a título póstumo, depois do pensamento austeritário ter dominado o mainstream da política económica e ter inventado os mais rocambolescos argumentos, quantitativos e não só, para desacreditar essa herança. Pois, nos últimos tempos, depois da crise estagnacionista das economias da zona euro (e convém não esquecer que todos os programas de ajustamento das dívidas soberanas foram concebidos como se a Europa fosse de vento em popa) e do Japão se ter revelado com toda a sua crueza, e das economias emergentes estarem também abaixo das expectativas, a palavra estímulos regressou à política económica. E regressou atenuando a crispação sobre os temas da dívida. Primeiro, pela mão da aprovação de significativas injeções de liquidez nas economias, algumas das quais não surtiram o efeito desejado pois tiveram que enfrentar constrangimentos sérios: o endividamento do setor privado que está relutante em investir e que não se perfila em procura fluente de crédito; a crise de balanços (imparidades) da banca que utilizou parte dessa liquidez para corrigir os seus próprios balanços. A falência ou, pelo menos, os resultados aquém das expectativas dos estímulos monetários (o zero lower bound atrapalhou muita gente) fizeram, finalmente e num segundo assomo proclamar a necessidade dos estímulos fiscais, assumindo que em situações extremas é a recuperação da economia e não a estabilidade orçamental que deve importar.
Já que não é seguro que Keynes se preocupe hoje com essas coisas, sendo provável que se dedique no além, em companhia da sua bela mulher, mais à contemplação artística do que a discutir política económica, Summers e DeLong, que foram os primeiros a formalizar a vantagem do estímulo fiscal mesmo que à custa de endividamento a taxas baixas no curto prazo (como hoje acontece), devem rebolar-se de gozo com esta vinda ao beija-mão dos mais empedernidos adeptos da consolidação austeritária. A sempre oportunista OCDE reclama esse estímulo fiscal e até o acossado Juncker anda a juntar os trapinhos e a pedir recursos para um grande esforço de investimento infraestrutural (seletivo e potenciador do crescimento) nas economias europeias.
Mas o que é mais interessante para as preocupações deste blogue é que à medida que se vai conhecendo melhor os resultados do estímulo norte-americano entre 2008 e 2011 novos cambiantes positivos e surpreendentes oferecem-se ao debate.
Gary Burtless, no Brookings, mostra que, quando se analisa o comportamento dos rendimentos durante o período objeto de intervenção por parte da administração Obama, se observa que as descidas de impostos temporariamente aplicadas e toda a série de transferências destinadas a compensar as famílias das diferentes perdas geradas pela crise minimizaram fortemente as perdas da classe média.
Como diria Pacheco Pereira isso terá permitido manter a dinâmica da sociedade americana tão flagelada pelo enviesamento a favor do 1% de americanos mais ricos.

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