Krugman pega no tema e proclama que Keynes está
lentamente a ganhar, a título póstumo, depois do pensamento austeritário ter
dominado o mainstream da política
económica e ter inventado os mais rocambolescos argumentos, quantitativos e não
só, para desacreditar essa herança. Pois, nos últimos tempos, depois da crise
estagnacionista das economias da zona euro (e convém não esquecer que todos os
programas de ajustamento das dívidas soberanas foram concebidos como se a
Europa fosse de vento em popa) e do Japão se ter revelado com toda a sua
crueza, e das economias emergentes estarem também abaixo das expectativas, a
palavra estímulos regressou à política económica. E regressou atenuando a
crispação sobre os temas da dívida. Primeiro, pela mão da aprovação de
significativas injeções de liquidez nas economias, algumas das quais não
surtiram o efeito desejado pois tiveram que enfrentar constrangimentos sérios:
o endividamento do setor privado que está relutante em investir e que não se
perfila em procura fluente de crédito; a crise de balanços (imparidades) da
banca que utilizou parte dessa liquidez para corrigir os seus próprios
balanços. A falência ou, pelo menos, os resultados aquém das expectativas dos
estímulos monetários (o zero lower bound
atrapalhou muita gente) fizeram, finalmente e num segundo assomo proclamar a
necessidade dos estímulos fiscais, assumindo que em situações extremas é a
recuperação da economia e não a estabilidade orçamental que deve importar.
Já que não é seguro que Keynes se preocupe hoje
com essas coisas, sendo provável que se dedique no além, em companhia da sua
bela mulher, mais à contemplação artística do que a discutir política económica,
Summers e DeLong, que foram os primeiros a formalizar a vantagem do estímulo
fiscal mesmo que à custa de endividamento a taxas baixas no curto prazo (como
hoje acontece), devem rebolar-se de gozo com esta vinda ao beija-mão dos mais
empedernidos adeptos da consolidação austeritária. A sempre oportunista OCDE
reclama esse estímulo fiscal e até o acossado Juncker anda a juntar os
trapinhos e a pedir recursos para um grande esforço de investimento
infraestrutural (seletivo e potenciador do crescimento) nas economias europeias.
Mas o que é mais interessante para as preocupações
deste blogue é que à medida que se vai conhecendo melhor os resultados do estímulo
norte-americano entre 2008 e 2011 novos cambiantes positivos e surpreendentes
oferecem-se ao debate.
Gary Burtless, no Brookings, mostra que, quando
se analisa o comportamento dos rendimentos durante o período objeto de
intervenção por parte da administração Obama, se observa que as descidas de
impostos temporariamente aplicadas e toda a série de transferências destinadas
a compensar as famílias das diferentes perdas geradas pela crise minimizaram
fortemente as perdas da classe média.
Como diria Pacheco Pereira isso terá permitido
manter a dinâmica da sociedade americana tão flagelada pelo enviesamento a
favor do 1% de americanos mais ricos.
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