Embora a eterna canção de Brel tenha por inspiração
a região belga da Flandres ocidental onde a família de Brel vivia, partilho com
a maioria dos holandeses a ideia de que a canção também pertence aos Países
Baixos, tamanha é a similaridade que o território da canção encontra nesta
infinita sequência de água e terra. Daí que exista uma versão holandesa "Mijn
vlakke land", também interpretada por Brel. Mas também teríamos a também
eterna Le Port d’Amsterdam para evocar Brel.
Já tinha reparado que os holandeses têm uma relação
obsessiva com a mayonnaise, não como um simples adereço gastronómico, mas como
ingrediente sempre presente na sua alimentação e ainda hoje numa curta libertação
após a conclusão da sessão do URBACT tive oportunidade de presenciar o modo ágil
e desempoeirado como os holandeses manipulam grandes embalagens de mayonnaise e
a vertem com prazer para acompanhar as mais simples batatas fritas, fazendo
disso um petisco. Soube também hoje, embora não o presenciando, que uma
aventura gastronómica radical dos mais acérrimos defensores da tradição do país
consiste em engolir de um só trago pequenos arenques frescos, o que
sinceramente tenho dificuldade em visualizar. Sem quaisquer veleidades de
radicalismo dessa natureza, tive o prazer de no acolhedor restaurante do
Rijksmuseum, profundamente renovado, comer um snack frio que envolvia arenque fresco, alguma mayonnaise, pão bem
preto e alguma salada, acompanhado de um copo de chardonnay chileno para
celebrar a economia global. Sempre é uma aproximação.
O Rijks e o seu vizinho Van Gogh visitam-se com
prazer, sobretudo pelo fascínio que não desaparece com os anos de contemplar
Rembrandt, Vermeer, Hals e o atormentado Van Gogh, passando por exemplares
praticamente únicos no Rijks de Goya, Monet, só para me lembrar dos mais
sonantes.
Quando ao debate think-tank do URBACT trabalhei
que me fartei desde esboçar em público um plano para um artigo sobre economia
verde (em parceria com um colega eslovaco de Kosice especializado em TIC) até
apresentar e discutir a minha comunicação sobre a gestão futura da economia
urbana e as suas implicações em termos de competências. A minha abordagem ao
tema é construída na base do conceito de inimitabilidade que as cidades
procuram, entendida como o produto de combinações de recursos e capacidades
(ingredientes), que constituem a essência da inimitabilidade. Esta questão
suscitou um vivo debate que eu próprio antecipei, pois o URBACT é uma rede que
visa promover a procura de boas práticas como elementos de inspiração. Procurei
mostrar que não há qualquer incompatibilidade entre aprender a partir das
experiências bem-sucedidas e procurar ser diferente e inimitável durante o
maior período de tempo possível. O que o tema nos vem mostrar é que a transferência
de conhecimento implica sempre um respeito mútuo por dois contextos, o de
partida e o de aplicação. Sem esse respeito e devido tratamento das suas
implicações, as boas práticas são uma treta e arrepia-me o modo leviano como a
Comissão Europeia promove autênticas procissões de boas e melhores práticas sem
atender a estes quesitos. O economista do desenvolvimento espacial, Philippe
Aydalot, dizia que era possível importar praticamente todos os ingredientes do
desenvolvimento menos a operação em si. Pois é. Os países melhor sucedidos que
não estão na fronteira do conhecimento estão irremediavelmente condenados à
equação acesso livre à difusão de progresso técnico-inovação. E não há
qualquer menoridade em assumir tal equação.
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