De passagem para o Algarve, numa longa viagem de
Alfa Pendular de cinco horas e meia, quando me cruzei com a concentração
industrial de Vila Franca de Xira não pude deixar de refletir sobre o que
significa o perigoso surto de Legionella que tem atormentado o norte da Área Metropolitana
de Lisboa nos últimos dias.
E a minha reflexão não pôde deixar de sublinhar de
novo a profunda dualidade da sociedade portuguesa, nos seus aspetos
empresariais, de comportamento, de organização dos serviços públicos, de competências
nacionais.
Comecemos pelo lado positivo da questão.
A resposta relativamente rápida e o modo sensato
e competente como a Direção Geral de Saúde tratou o problema, secundada depois
por entidades associadas ao Ministério do Ambiente, mostram que apesar de toda
a delapidação de recursos humanos de serviço público, de cortes cegos nesses
mesmos serviços e de toda a desconfiança política no corpo de funcionários públicos
Portugal tem, pelo menos em alguns domínios, um serviço público
desproporcionado pela positiva ao nosso nível de desenvolvimento.
Mas o surto de legionella e com toda a
probabilidade a sua origem evidenciam também o descuido potencialmente
criminoso de alguns, numa linha de culto organizacional e comportamental de
menosprezo pelas mais elementares condições de segurança. O jornal Público cita
hoje um estudo com cerca de dois anos do Instituto Ricardo Jorge em que a
presença inequívoca da bactéria nos complexos de torres de refrigeração agora
sob o foco das autoridades está demonstrada com observações suficientemente
representativas. O impacto desse estudo ter-se-á esgotado no esquecimento
e nada de concreto e operacional terá
sido acionado para contrariar a ameaça à saúde pública que tal investigação
anunciava.
Depois, bem pode também concluir-se que entre a
comunicação competente da DGS e pedagógica de Paulo Macedo e as entradas no
processo do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território e do próprio
Passos Coelho o registo de sensatez e competência não é o mesmo.
A dualidade da sociedade portuguesa no seu
melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário