quarta-feira, 12 de novembro de 2014

LEGIONELLA OU A DUALIDADE DA SOCIEDADE PORTUGUESA



De passagem para o Algarve, numa longa viagem de Alfa Pendular de cinco horas e meia, quando me cruzei com a concentração industrial de Vila Franca de Xira não pude deixar de refletir sobre o que significa o perigoso surto de Legionella que tem atormentado o norte da Área Metropolitana de Lisboa nos últimos dias.
E a minha reflexão não pôde deixar de sublinhar de novo a profunda dualidade da sociedade portuguesa, nos seus aspetos empresariais, de comportamento, de organização dos serviços públicos, de competências nacionais.
Comecemos pelo lado positivo da questão.
A resposta relativamente rápida e o modo sensato e competente como a Direção Geral de Saúde tratou o problema, secundada depois por entidades associadas ao Ministério do Ambiente, mostram que apesar de toda a delapidação de recursos humanos de serviço público, de cortes cegos nesses mesmos serviços e de toda a desconfiança política no corpo de funcionários públicos Portugal tem, pelo menos em alguns domínios, um serviço público desproporcionado pela positiva ao nosso nível de desenvolvimento.
Mas o surto de legionella e com toda a probabilidade a sua origem evidenciam também o descuido potencialmente criminoso de alguns, numa linha de culto organizacional e comportamental de menosprezo pelas mais elementares condições de segurança. O jornal Público cita hoje um estudo com cerca de dois anos do Instituto Ricardo Jorge em que a presença inequívoca da bactéria nos complexos de torres de refrigeração agora sob o foco das autoridades está demonstrada com observações suficientemente representativas. O impacto desse estudo ter-se-á esgotado no esquecimento e  nada de concreto e operacional terá sido acionado para contrariar a ameaça à saúde pública que tal investigação anunciava.
Depois, bem pode também concluir-se que entre a comunicação competente da DGS e pedagógica de Paulo Macedo e as entradas no processo do Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território e do próprio Passos Coelho o registo de sensatez e competência não é o mesmo.
A dualidade da sociedade portuguesa no seu melhor.

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