domingo, 9 de novembro de 2014

SARDANAS DE FIM INTERROGADO



Escrevo a uma hora em que a consulta popular do 9N na Catalunha ainda não produziu resultados, a não ser que praticamente 2 milhões de indivíduos terão votado, pelo menos até às 18 horas. Não é seguro que os resultados que venham a ser publicados sejam credíveis do ponto de vista da massa eleitoral que representam. Mas, apesar de tudo isso, a completa inabilidade do Governo espanhol conseguiu a proeza de despertar um processo de participação popular de forte significado e o que é mais prodigioso em tudo isto é que num momento em que o catalanismo se vê seriamente penalizado pelas dimensões de corrupção que atravessaram o poder de uma das famílias catalães mais representativas, os Pujol, foi possível trazer às urnas este nível de participação.
É bem possível que uma larga parte do movimento popular que suporta as ambições independentistas não tenha uma ideia clara das implicações de uma eventual independência da Catalunha e muito menos possa assegurar a sustentabilidade desse passo. Mas em meu entender alguma margem de manobra política tem de ser criada para acolher este nível de participação. Não é ainda também claro se Artur Mas e o governo regional em funções utilizarão os resultados e o nível de participação como instrumento de marcação de eleições antecipadas, em estilo plebiscitário. É provável que Mas enverede por uma sinuosa negociação com Madrid e que só em função dos resultados dessa trégua negocial se decida pelo ato plebiscitário. Tudo isso são conjeturas com elevada dose de concretização possível. O que é certo é que a postura política do governo espanhol só tenderá a engrossar o descontentamento agora validado por este nível de participação largamente potenciado pelo envolvimento de organizações de cidadãos. A energia participativa do catalanismo necessitará de encontrar alguma fórmula de tradução política e a tragédia é que a rigidez de Rajoy parece cada vez mais incapaz de proporcionar essa solução política com cobertura constitucional.
Acossado por uma corrupção endémica, pela ascensão do PODEMOS, em parte também pela renovação de liderança do PSOE assegurada por Pedro Sanchéz e agora pela necessidade de gerir o pós 9N, o governo PP emerge incapaz de capitalizar alguma melhoria de situação macroeconómica interna.
É espantoso como se degradou a situação política do PP entre a sua estrondosa vitória eleitoral e a sua agonia latente de hoje. Também aqui se sente a aceleração dos efeitos da crise de 2007-2008 e dos seus devastadores efeitos na banca espanhola. A evolução espanhola dos últimos 7 anos bastaria por si só para mostrar que não há gestão macroeconómica de crises sem atender às margens de manobra possível no plano político.

Sem comentários:

Enviar um comentário