A publicidade do Euromilhões tem como um do seus
spots algo de semelhante a “que tipo de excêntrico és tu?”, disseminando a
ideia de que o concurso promove a emergência de grandes fortunas.
Mas, na realidade, o comportamento da
desigualdade da distribuição do rendimento nas economias mais ricas tem vindo a
confirmar que o topo dos níveis de rendimento está a evoluir a taxas
inequivocamente mais elevadas do que os restantes percentis de rendimento. Sobretudo
no que diz respeito à economia americana, aquela em que o debate sobre a
desigualdade tem tido uma maior expressão, começa a ser possível reunir evidências
seguras que demonstram a concentração extrema das quotas de rendimento.
Primeiro, foi a evidência de que um indicador
sintético de distribuição do rendimento, o coeficiente de GINI, que é um
indicador de síntese e que como tal é sempre difícil de interpretar, pode ser substituído
sem qualquer problema pelo comportamento da quota de rendimento apropriada
pelos 20% mais ricos. O valor deste índice determina quase a 100% o
comportamento do indicador de síntese.
Depois, os trabalhos mais recentes de Emmanuel
Katz (Berkeley) e Gabriel Zucman (London School of Economics) vieram mostrar
que nos últimos 30 anos o comportamento da desigualdade nos Estados Unidos é
substancialmente explicado pela concentração no 1% mais rico da sociedade
americana, com relevo principal para os mais ricos de entre esse 1%.
O New York Times de ontem (15.11.2014) apresentava
evidências dessa concentração através do comportamento dos segmentos de mercado
de bens de consumo tipicamente consumidos pelo grupo do 1º mais rico das
sociedades. Assim, no setor dos barcos de recreio, jatos, automóveis de luxo e
outros que tais, o NYT mostra que são os segmentos de topo que têm visto a sua
procura disparar.
Dirão alguns que o preço já é suficientemente um
fator de segmentação. Mas em termos de fiscalidade e de vontade política para a
bem trabalhar, parece não ser difícil colocar a política fiscal ao serviço da
correção do que parece ser um claro desequilíbrio na distribuição do rendimento
das economias mais maduras, taxando o que tem uma elevada capacidade para ser
taxado. Claro que Maria do Luís Albuquerque há dias, com a sua marota inocência
ou infinito descaramento veio objetivamente contextualizar este problema na
sociedade portuguesa. Disse a ministra que no fundo somos pobrezinhos e que por
termos tão pouca gente rica é a classe média que paga. A estrutura do consumo
em Portugal parece desmentir a ministra e o fogo na classe média tem outros
motivos, entre os quais a ferocíssima cruzada contra os funcionários públicos. Que
tenha dado fé, ninguém parece ter respondido à letra à ministra.
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