Por estes dias, duas razões só circunstancialmente coincidentes me levaram a revisitar o Rio de Janeiro e o Brasil. Por um lado, li na íntegra o magnífico livro de viagens de Alexandra Lucas Coelho (de que já conhecia algumas crónicas); por outro lado, fui ver ao cinema o filme coletivo (contando com realizadores como Fernando Meirelles, Paolo Sorrentino ou John Turturro) “Rio, Eu Te Amo” da série “Cities of Love”.
Enquanto o filme, sendo desigual, tem elementos interessantes e é bonito, o livro é um verdadeiro must. No prefácio, Francisco Bosco explica-o sem mácula: “Tece-se aqui uma trama onde se constata que o presente e o passado estão presentes no futuro, assim como o futuro está contido no passado — e se pergunta se esses tempos conseguirão em alguma medida liberar-se uns dos outros, o passado deixando de condenar o futuro a uma eterna repetição, o futuro escolhendo de qual dos seus passados servir-se para reinventar-se. Essa é a pergunta presente que o Brasil se faz. Alexandra Lucas Coelho a recoloca, aqui, com a devida complexidade, situando-a no intervalo ambíguo entre a repetição e a promessa. Entre o vaticínio de Stefan Zweig (‘Brasil, país do futuro) e o desengano de Millôr Fernandes (‘O Brasil tem um longo passado pela frente’). No meio disso, o presente, acontecendo com renovada intensidade após décadas de letargia, e relançando assim a pergunta sobre o sentido do nosso ir.”
Mas tem mais, muito mais. Respigo apenas aquela reflexão sobre eles e nós, assim: “Portugal nunca bastou a Portugal. O Padre António Vieira em São Luís do Maranhão. Luís de Camões nas águas do Mekong. Camilo Pessanha num catre de Macau. Wenceslau de Moraes exilado em Tokushima. Fernão Mendes Pinto na Muralha da China. Partimos porque não podemos ficar, voltamos porque nunca partimos. Há sempre uma distância entre nós e nós, e daí vem o melhor do que temos sido, as várias vidas da poesia, além da falada. É por isso que nenhum português podia ter escrito ‘Chega de Saudade’ (Vai minha tristeza / e diz a ela que sem ela não pode ser...). Não damos ordens à tristeza ou a tristeza não nos obedece. A tristeza obedece ao Brasil, e isso é chorinho, é um samba de Paulinho da Viola, a bossa-nova de Tom Jobim. O Brasil cria dominando a tristeza: ‘Chega de Saudade’. Portugal precisa que a saudade não acabe.”
Acho que um dia destes, espero que ainda antes da privatização da TAP, vou mesmo apanhar um avião e “voltar lá”...
Enquanto o filme, sendo desigual, tem elementos interessantes e é bonito, o livro é um verdadeiro must. No prefácio, Francisco Bosco explica-o sem mácula: “Tece-se aqui uma trama onde se constata que o presente e o passado estão presentes no futuro, assim como o futuro está contido no passado — e se pergunta se esses tempos conseguirão em alguma medida liberar-se uns dos outros, o passado deixando de condenar o futuro a uma eterna repetição, o futuro escolhendo de qual dos seus passados servir-se para reinventar-se. Essa é a pergunta presente que o Brasil se faz. Alexandra Lucas Coelho a recoloca, aqui, com a devida complexidade, situando-a no intervalo ambíguo entre a repetição e a promessa. Entre o vaticínio de Stefan Zweig (‘Brasil, país do futuro) e o desengano de Millôr Fernandes (‘O Brasil tem um longo passado pela frente’). No meio disso, o presente, acontecendo com renovada intensidade após décadas de letargia, e relançando assim a pergunta sobre o sentido do nosso ir.”
Mas tem mais, muito mais. Respigo apenas aquela reflexão sobre eles e nós, assim: “Portugal nunca bastou a Portugal. O Padre António Vieira em São Luís do Maranhão. Luís de Camões nas águas do Mekong. Camilo Pessanha num catre de Macau. Wenceslau de Moraes exilado em Tokushima. Fernão Mendes Pinto na Muralha da China. Partimos porque não podemos ficar, voltamos porque nunca partimos. Há sempre uma distância entre nós e nós, e daí vem o melhor do que temos sido, as várias vidas da poesia, além da falada. É por isso que nenhum português podia ter escrito ‘Chega de Saudade’ (Vai minha tristeza / e diz a ela que sem ela não pode ser...). Não damos ordens à tristeza ou a tristeza não nos obedece. A tristeza obedece ao Brasil, e isso é chorinho, é um samba de Paulinho da Viola, a bossa-nova de Tom Jobim. O Brasil cria dominando a tristeza: ‘Chega de Saudade’. Portugal precisa que a saudade não acabe.”
Acho que um dia destes, espero que ainda antes da privatização da TAP, vou mesmo apanhar um avião e “voltar lá”...
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