terça-feira, 13 de setembro de 2022

DESASTRADA E DESASTROSA

Fernando Teixeira dos Santos (FTS), ex-ministro das Finanças do Governo Sócrates e hoje aniversariante, esteve ontem na “CNN Portugal” a comentar a entrevista ao primeiro-ministro (refira-se, entre parêntesis, que se tratou bem mais de uma encomenda, vulgo frete, que contou com a devida interpretação por parte das estações, não obstante as tentativas de suscitar alguma controvérsia levadas a cabo por um televisivamente tenrinho Pedro Santos Guerreiro). E foi perante uma concordantemente espantada Manuela Ferreira Leite que FTS veio ao desforço em relação a António Costa e às suas declarações críticas aquando de uma conferência de imprensa sua, em 2011, sobre o chamado PEC 4 (facto a que já aqui aludi no quadro de um comentário ao livro publicado por FTS em janeiro passado, post “Um livro aliciante” de 24 de janeiro) ― reproduzo-as: “a comunicação do ministro das Finanças da passada sexta-feira ficará certamente para a história como a mais desastrada e desastrosa que alguma vez foi feita em Portugal, se não mesmo no hemisfério norte, de todos os pontos de vista”. Eis, então, a resposta de ontem, bem elucidativa da prática que costumamos associar à ideia de uma vingança que se deve servir fria (talvez mesmo quando tardia por acontecer com um delay de mais de onze anos): “Eu creio que a comunicação que o primeiro-ministro fez sobre esta matéria ― e usando terminologia que ele próprio, sobre este mesmo tema, aqui há uns anos utilizou ― que a forma como comunicou foi desastrada e desastrosa. Porque não foi claro e, obviamente, essa falta de clareza está a fazê-lo pagar, no meu entender, um preço político significativo porque deixou uma incerteza enorme quanto ao que irá ser a evolução das pensões para além de 2023. A questão de se dizer que não podemos aumentar as pensões agora, com uma inflação tão elevada, porque a inflação pode baixar, eu acho que é um argumento falacioso porque, se a preocupação é preservar o valor real das pensões, o seu poder de compra, uma coisa é certa: esta inflação elevada fez aumentar os preços e são os preços que determinam o poder de compra, não é a inflação; e, portanto, a inflação pode baixar para zero no futuro mas os preços ficam ao nível que vão atingir com esta inflação, e é isso que vai determinar no futuro o valor real das pensões.” Aqui fica o registo, desde logo porque rigoroso e depois porque talvez seja merecedor de constar na pequeníssima história do nosso retângulo, seja para efeitos de elucidação da forma como algum PS afiou as garras em relação ao independente que Sócrates tinha escolhido para as Finanças (toda uma história que ficará largamente por contar, neste caso como noutros), seja para efeitos de uma adequada perceção quanto ao modo de estar na política que tem vindo a caraterizar o homem que nos comanda os destinos e que se prepara para liderar o País durante o período recorde de mais de uma década.

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