sexta-feira, 2 de setembro de 2022

GORBI CUMPRIU A SUA MISSÃO, O RESTO...

Naturalmente que também eu me inclino perante a memória do recém-desaparecido Mikhail Gorbatchov, um homem que por estes dias tem sido sobretudo lembrado como o aparentemente contraditório último líder da União Soviética (secretário-geral do Partido Comunista entre 1985 e 1991 e Chefe de Estado entre 1988 e 1991) que largamente contribuiu para o acontecimento verdadeiramente histórico de pôr um fim ao regime comunista e à guerra fria, não sem que os mais recalcitrantemente ortodoxos (como o PCP, cada vez mais mergulhado numa teimosia feita coerência) lhe continuem a assacar a responsabilidade última pelo colapso que deu lugar a um enorme declínio da influência russa no mundo e poderá, dizem, ter criado condições propícias para um avolumar de incidentes e desastres a que se assiste um pouco por toda a parte em geral e na “Mãe Rússia” em particular.

 

Mas, quaisquer que tenham sido as convicções e razões profundas que o moveram (matéria tão simultaneamente complexa e clara que nem sequer ouso aflorá-la), é de liberdade que se trata quando atualmente se evoca Gorbatchov, essa liberdade que a sua estranha passagem pelo poder permitiu objetivamente garantir e que hoje tão brutalmente escasseia nessa terrível Rússia de Putin. As centenas de textos e análises que têm vindo a ser produzidas e disponibilizadas são por si mesmas suficientemente poderosas para que aqui não possam caber mais tentativas, ademais de teor amadorístico, visando a (re)interpretação de um período histórico tão decisivo e determinante com foi aquele dos finais dos anos 80 e inícios dos anos 90 do século passado ― daí que opte por recorrer singelamente a dois títulos do “Libération” que dão conta de tudo o que releva na matéria em causa, assim dispensando novas palavras e explicações: por um lado, a afirmação de que o passamento de Gorbatchovconcretiza, de facto, “a última morte da URSS”; por outro lado, o sublinhado de que “com Gorbatchov, a história europeia pôde continuar”. Não é esta uma feliz e imbatível síntese?


(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)

(Pierre Kroll, https://www.lesoir.be)

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