quinta-feira, 8 de setembro de 2022

MARCELO PERDEU A NOÇÃO?

Confesso-me um piedoso admirador das inesgotáveis capacidades de sofrimento e resiliência que Marcelo consegue exibir sempre que está em causa o seu je e nada mais do que uma qualquer oportunidade mediática para uso e serviço da sua excelsa pessoa. O último episódio desta novela sem classificação (talvez um mix de comédia e tragédia, com a agravante da presença de múltiplos requintes de má qualidade) tem vindo a desenrolar-se no Brasil a propósito dos 200 anos da independência e através da farsa a que o nosso Presidente se prestou, ademais após os maus-tratos de que foi alvo em julho por parte de Bolsonaro. Compreendo e aceito os seus “argumentos de Estado” mas entendo que eles não podem afrontar ilimitadamente nem o contexto envolvente em termos mais alargados nem a circunstância associada à função.

 

No primeiro dia, e à saída de uma audiência que foi reduzida à sua expressão mínima, era um Marcelo visivelmente atrapalhado que declarava: “Falou-se naturalmente dos 200 anos, de como o Brasil se foi afirmando ao longo dos 200 anos e a projeção hoje e falei, obviamente tinha que falar, do peso dos brasileiros em Portugal. Correu muito bem, à medida dos 200 anos de história do Brasil, eu aproveitei para contar a história de D. Pedro (...).” A sério que ele quer contar aos portugueses a história de que contou a história de D. Pedro a Bolsonaro?

 

Ao segundo dia, Marcelo esteve no palanque do desfile militar em que não quiseram estar o Presidente do Senado e da Câmara, tendo sido novamente desconsiderado com a colocação de um empresário duvidoso e antidemocrata entre si e o presidente canarinho. E chancelando depois, objetivamente assim foi (veja-se abaixo a imagem que faz capa no “Público” de hoje), o aproveitamento eleitoral que Bolsonaro fez daquele momento e as proclamações golpistas, reacionárias, homofóbicas, machistas e degradantemente ofensivas com que brindou a audiência de fãs que maioritariamente convocou. Ao ver as imagens, tive vergonha, muita vergonha alheia mas também nacional dado o papel que o nosso mais alto representante autorizou que Portugal surdamente desempenhasse enquanto figurante perdido e aparvalhadamente sorridente no meio daquela triste balbúrdia e daquele espetáculo indigno e humilhante.



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