GODARD

                                                                         

(Um seguido de outro vão tombando alguns referentes culturais da minha geração, numa sucessão que me vai causando alguma perturbação, sempre são 73 anos que vão procurando resistir. No caso de Jean Luc Godard, pelo menos aparentemente foi a já longa idade, 91 anos, a causa do suicídio assistido que determinou a sua morte. Mas o que mais me impressiona é que os tais referentes culturais vão caindo sem que outros mais contemporâneos os substituam de forma mais consolidada. Godard, juntamente com outros nomes como Truffaut, Rivette e Chabrol representavam para a minha geração o que os Cahiers du Cinéma, revista criada no início dos anos 50, por Jacques Doniol-Valcroze, André Bazin e Lo Duca, nos tinham anunciado como uma alternativa, relendo entre outras influências o contributo de clássicos do cinema, designadamente do cinema americano. A expressão Nouvelle Vague procurou representar esse movimento).

Nesse conjunto de referentes, Godard é talvez o mais inclassificável, o mais radical e o que protagonizou uma maior diversidade de movimentos e tendências, em permanente investigação de novos rumos para a arte.

 

O Libération cita uma caracterização de Serge Daney, datada de 1986, que descreve bem o que Godard representava: “Filósofo, científico, predicador, educador, jornalista, mas tudo isso em modo amador, ele é o último (neste dia) a ser o testemunho (coerente nas suas manifestações) e a consciência (moral) do que acontece ao cinema”. A Bout de Souffle com os eternos Belmondo e Jean Seberg (1960) e Vivre sa Vie (com Anna Karina) com a qual nos trouxe dos rostos mais impressivos da história do cinema  ainda são os filmes a que frequentemente regresso, embora compreenda que o talento prevaricador de Godar não pode ser reduzido a esses dois filmes.

Recomendo vivamente o artigo de Didier Péron no Libé para uma completa digressão sobre o significado da arte de Godard (link aqui, infelizmente apenas para assinantes).