sexta-feira, 30 de setembro de 2022

O GOVERNO VAI BEM, OBRIGADO!

(excerto de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Quem teve a infeliz ideia de assistir ao debate parlamentar de ontem pôde constatar três coisas cristalinas: a confirmada ignorância do primeiro-ministro em matérias económicas, a pobreza confrangedora da larga maioria das intervenções e dos interventores em presença e a baralhação e disfarçada desorientação em que se encontra António Costa.

 

Sobre a primeira dimensão, tivemos uma especial evidência (para os que sabem ler nas folhas de chá) na troca de galhardetes havida entre o chefe do governo e o deputado liberal Carlos Guimarães Pinto acerca da relação entre os aumentos salariais propostos pelo executivo (reais ou nominais, perguntava o deputado sem obter uma resposta que não fosse a de uma arrogante espécie de antes pelo contrário!) e as suas implicações em termos do objetivo proclamado de aumentar em três pontos percentuais a parte dos salários no produto.

 

Sobre a segunda, registo particularmente a desesperante inépcia política do líder parlamentar do PSD, a já inaudível cassette do PCP e a incompetente e chocante prestação dos homens do Chega, tudo acompanhado por um primeiro-ministro mais interessado em jogos florais e em mostrar a sua indiscutível superioridade retórica e argumentativa (mesmo que completamente ao lado do que possa estar em discussão) do que em esclarecer os portugueses sobre os assuntos em questão.

 

Sobre a terceira, é paradigmático o exemplo a que hoje alude João Vieira Pereira na sua coluna do “Expresso” (na essência, a tolice ou chico-espertice, consoante a perspetiva que queiram escolher, de começar por propor a abertura de uma negociação das atualizações salariais na função pública com base em 2% para seguidamente levar uma proposta à concertação salarial assente num aumento dos salários privados em 4,8%) mas as suas manifestações já vêm de longe, como passo a explicar.

(Construção própria a partir de https://www.ine.pt)

 

Por um lado, e no tocante à caraterização da inflação (aqui na triste companhia de um Centeno então alinhado com o BCE e de um ministro das Finanças sempre pronto a secundar a palavra do chefe) ― nem de propósito, a estimativa rápida do INE para setembro continua a apontar para um descontrolado upa-upa. Por outro lado, e no tocante à indicação de uma meta política em que vai insistindo sem rede desde abril (fazer convergir a parte dos salários no PIB para a média europeia, ou seja, de 45% para 48%, nos próximos anos ― veja-se imediatamente abaixo o modo como Costa apresentou o tema num tweet) quando as estatísticas que a terão ajudado a definir só podem ter sido objeto de revisão dada a improcedência de tal meta por já atingida em 2021 (senão, veja-se o gráfico mais abaixo, construído a partir dos dados do Eurostat sobre o tópico em causa). E deixo de lado, porque isso já me irrita profundamente, a eterna questão da TAP e, agora, com a desfaçatez de um reconhecimento, tão irresponsável quanto gratuito, de que podemos perder dinheiro com as autênticas variações de humores de que a dita empresa foi alvo por parte de sucessivos governos mas também, e largamente, dos comandados por Costa. 



(Construção própria a partir de https://ec.europa.eu/eurostat)

Sem comentários:

Enviar um comentário