segunda-feira, 12 de setembro de 2022

RADICALISMO DE PANTOMINA

                                                                             

                                                                                   


(O termo foi cunhado pelo The Economist na análise crítica que a revista desenvolveu sobre o que os britânicos poderão esperar da neófita Liz Truss, link aqui, e descreve as diferentes formas de radicalismo político, com tons diferenciados de populismo, que têm vindo a emergir praticamente em todos os eleitorados. Este fenómeno acontece num contexto de acentuada polarização fragmentada, no qual é praticamente impossível uma formação de esquerda ou de direita consolidar uma posição de governação, seja com maioria absoluta, seja com condições para forçar maiorias parlamentares relativamente sólidas. A maioria absoluta do PS em Portugal é uma exceção a essa regra. O que há de novo neste contexto de todas as incertezas é a possibilidade desse radicalismo de pantomina se agregar à direita e com isso baralhar todo o processo e abrir um novo caminho para que o fenómeno chegue à governação e não se fique pela mera contestação mais ou menos barulhenta).

Desenvolvendo este último ponto, a agregação do radicalismo de pantomina pode concretizar-se segundo modelos diversos. Pode acontecer, como o exemplo de Itália o ilustra perfeitamente, que a direita mais ou menos civilizada agoniza e que a direita radical mesmo pulverizada se agrega e toma o seu lugar. No caso de Itália, existe uma personalidade agregadora, Giorgia Meloni, embora pertencente a um partido, os Irmãos de Itália, tão de pantomina como os restantes. O caso desta semana na Suécia é um pouco diferente porque a direita não está propriamente em agonia, mas partilha valores similares aos do radicalismo de pantomina, anti-imigração e outros princípios que tais. Quando escrevo não há ainda a certeza se a agregação chega ou não aos 175 lugares que lhe permitirão governar. Revela de qualquer modo a mesma tendência e os sociais-democratas suecos poderão ter de ceder a governação e imagina-se o que esperam o modelo social sueco e a sua tolerância. No caso de Espanha (e de Portugal na perspetiva do PSD enquanto alternativa de governação), a questão é um pouco diferente, pois a direita mais ou menos civilizada vai resistindo à força eleitoral do VOX, mas há quem de dentro do PP não desdenhe uma aliança de circunstância com o objetivo de chegar ao poder.

O que podemos concluir é que as agregações do radicalismo de pantomina se concretizam em função de um objetivo mais importante do que todos, afirmar os valores mais rudimentares de xenofobia e intolerância através de uma conquista do poder. À esquerda não tem sido fácil contrapor a esses projetos de agregação alianças como a da geringonça em Portugal, que tem de ser compreendida no contexto pós Troika. Primeiro, porque a conquista ou a preservação do poder não parece ser motivação suficiente. Segundo, porque alimentam processos mais ideologizados. Terceiro, porque nem sequer a ideia da barragem à extrema-direita parece ser motivo de aliança (o caso da Itália assim o demonstra).

O que a inflexão dos Conservadores britânicos nos mostra é que o radicalismo de pantomina pode ele próprio penetrar forças políticas com outra consistência histórica, minando valores e posturas tradicionais na política. O Economist não enjeita a possibilidade de Liz Truss enveredar por essa orientação, o que diz bem da relevância do problema. E no caso dos Republicanos nos EUA esse radicalismo tomou de assalto o Partido e muito dificilmente os velhos e fiáveis Republicanos retomarão as rédeas do Partido.

Com todas estas tendências claras no horizonte imediato, a esquerda parece continuar a ignorar o novo contexto da luta política. O risco é ela própria ceder ao mesmo tipo de radicalismo.

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