(Como perguntar não ofende, gostaria que os mais fervorosos adeptos em Portugal do independentismo catalão, que é diferente como tenho vindo a explicar do catalanismo e da identidade catalã, se pronunciassem sobre a degradação óbvia no interior desse independentismo e como é que apreciam a mais do que anunciada revelação de que o Junts per Catalunya é um recipiente sem conteúdo e vazio de ideias. Caladinhos que nem ratos, será que já compreenderam que o independentismo está hoje refém de egos incomensuráveis, que não têm nada que acrescentar ao debate sobre os destinos da Catalunha no mundo e na Espanha de hoje? E que no meio de tanta tralha vazia de ideias, ocultada pelo ego independentista desmedido, o atual líder da Generalitat, Pere Aragonès, acaba por se transformar num líder que merece atenção e compreensão para o lio em que meteram a Catalunha?)
Sempre fui claro nesta matéria. No independentismo catalão, só há uma força política digna de confiança e com alguma coerência histórica, a Esquerra Republicana. O Junts per Catalunya de Puigdemont (personagem mais mediática) e Laura Borràs (presidente do Partido) é uma espécie de invenção da história, emergido de sucessivas desagregações de outros partidos, sem uma ideia estratégica que se lhe conheça, apoiado em algum mediatismo do seu líder que capitalizou a sua fuga para países que o defenderam da extradição. A CUP é o radicalismo que nunca teve coragem para seguir as pisadas do radicalismo basco, assina por vezes algumas tropelias de ação violenta de rua, mas não será seguramente com o seu conteúdo que o independentismo poderá singrar.
Uma base política com esta configuração teria obviamente que dar para o torto e assim tem acontecido. O Junts de Puigdemont e Borràs (Quim Torra, ex-presidente da Generalitat tem estado longe do foco da atenção pública) tem feito tudo para encostar à parede o seu parceiro de governação na Generalitat, esgotando um arsenal de intrigas políticas e escaramuças de recorte institucional diversificado. A Diada tem tido uma organização cada vez mais difícil e diminuiu bastante de intensidade e massa de presença na rua. A tensão subiu tanto nos últimos tempos que o presidente da Generalitat Aragonès se viu forçado a demitir o vice-Presidente que representava o Junts. Obviamente que, no seio de tanto ego assanhado e sedento de projeção mediática abraçando o independentismo, os verdadeiros intérpretes do catalanismo e da identidade económica e cultural da Catalunha estão obviamente fora da política, cansados de tanta falta de categoria e consistência. Imagino que a saída possível para este pântano em que a Catalunha está mergulhada só poderá passar pelo reforço político da Esquerra e o afundamento do Junts para ser possível uma base de negociação política credível com o governo de Madrid, qualquer que ele seja.
Ora tudo isto se tem passado com o mais completo mutismo dos analistas de serviço mais próximos do independentismo catalão como Daniel Oliveira ou mesmo Pacheco Pereira que tantas vezes falou da amizade pessoal com Quim Torra.
Estou curioso sobre o que pensam desta egolatria com que o independentismo catalão tragicamente tem vindo a confundir-se.
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