domingo, 18 de setembro de 2022

VELHARIAS

 


(Creio que já dei conta neste blogue do ritual dos terceiros domingos de cada mês com a feira dos Colecionistas e das Velharias a ocupar o espaço do jardim de Caminha, fronteiriço ao Coura e mesmo em frente à minha casa de Seixas. Para além da utilização do jardim pelos infantários da vila que sobretudo no verão levam os miúdos a um almoço no jardim sob a forma de pic-nic, a dita feira é o único evento que consegue voltar a vila para aquele espaço, num desperdício de localização que dá que pensar. Sou um visitante curioso da feira, sobretudo no espaço dos livros, especialmente tirando partido da forte presença de galegos com as suas banquinhas, o coordenador do evento é um galego, Luís Dominguéz de seu nome, onde tenho descoberto algumas preciosidades da literatura, história e economia galegas, de Castelao a Xosé Manuel Beiras. Mas a colheita é sempre indeterminada.)

A colheita de hoje integrou dois exemplares da Vértice, oriundas de um período em que descontinuei a compra da revista, com destaque para um deles com a curiosidade de um artigo sobre o segundo programa do M.F.A. (fevereiro de 1975).

Mas a principal colheita de hoje foi a preciosa descoberta de um livro de 1932, de Afonso Lopes Vieira, sobre a Jornada do Centenário de Santo António, que ficará bem junto do incontornável Santo António visto pelas lentes e pena de Agustina Bessa Luís que me encheu as medidas quando o li.

Lá por casa e em respeito cá pelo JE existe alguma devoção por Santo António e nada melhor do que um excerto do Padre António Vieira destacado por Afonso Lopes Vieira, retirado do Sermão de Santo António, pregado na Igreja dos Portugueses em Roma.

O excerto vale toda uma crónica de domingo de um verão que teimosamente se aguenta:

“E se António era luz do mundo, como não haveria de sair da pátria? Saiu como luz do mundo e saiu como português. Por isso nos deu Deus tam pouca terra para o nascimento, e tantas terras para sepultura. Para nascer, Portugal; para morrer, o mundo.”

Quem diria que tanto tempo depois o excerto deste sermão de Vieira ainda se aplica como uma luva aos destinos de ser português?

Sem comentários:

Enviar um comentário