Os dados empíricos têm a enorme utilidade de nos colocarem perante a realidade tal qual ela é mais do que tal qual ela é percebida por quem nela está mergulhada. De facto, e perante o volume de referências contraditórias que vão sendo feitas a propósito da real e desejada situação comparada dos custos laborais portugueses (quer em termos do que eles evidenciam do ponto de vista dos níveis de vida e de sofisticação produtiva quer em termos do que eles revelam do ponto de vista da competitividade), a realidade dos números é clara: por um lado, Portugal permanece muito longe do referencial salarial dos países europeus onde são pagas remunerações mais elevadas ― bastante ou pouco abaixo de metade em relação a uma dezena (Dinamarca, Luxemburgo, Bélgica, Suécia, Holanda, França, Áustria, Alemanha, Finlândia e Irlanda) e a 55%, 70% e 75% dos valores de Itália, Espanha e Eslovénia, respetivamente; por outro lado, Portugal depara-se com a forte concorrência salarial proveniente dos países da Europa de Leste ― alguns deles já muito próximos dos nossos níveis (como a Chéquia, a Estónia e a Eslováquia), outros algo mais distantes (como a Polónia, a Lituânia, a Letónia, a Croácia e a Hungria) e apenas dois (Roménia e Bulgária) ainda muito afastados ― e apresenta custos laborais aproximados dos restantes países europeus mediterrânicos (Chipre, Malta e Grécia). Estamos, pois, rigorosamente a meio desta tabela classificativa, de algum modo stuck in the middle, ou seja, entalados e desarmados entre a fruição dos mais ricos e a recuperação dos mais pobres (veja-se abaixo, a título ilustrativo, uma indicação do que foram as evoluções salariais desde a crise de 2008), uma espécie de armadilha do rendimento médio a também aqui se manifestar desfavoravelmente para nosso desconforto.
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