Tal como ontem previ, a carta aberta de Reinhart
e Rogoff (R&R) a Krugman fez emergir uma nova linha divisória no debate em
torno da melhor solução para resolver a crise das dívidas soberanas e sobretudo
a gravosa situação das economias do sul.
Essa linha divisória deixou de ser a de sim ou não
à austeridade pela austeridade, pois R&R abandonaram essa trincheira.
A questão está agora mais clara entre os que
ousam debater esta questão.
De um lado, R&R propondo anulação de dívida
nas economias do sul e capacidade dos alemães em injetar capital na sua banca
mais exposta a essa possibilidade, defendendo complementarmente a continuidade
de uma política monetária expansionista por parte do BCE.
Do outro lado, Krugman e DeLong, liderando um
vasto movimento, propondo no sul algum alívio das exigências de austeridade
desejavelmente acompanhado de políticas de competitividade e no norte, particularmente
na Alemanha, um estímulo fiscal gerador de subida de salários e de incremento
de importações a partir do sul, contribuindo assim para gerir o desequilíbrio
norte-sul no interior da zona euro e reduzir o gap de competitividade a ele
associado.
Porém, convém não ignorar que ambos os blocos do
debate esquecem que sem Alemanha cooperante não há saída para qualquer um dos
lados da barricada. O estímulo fiscal procíclico de Krugman e DeLong não goza
das preferências alemãs, permanecendo apenas a interrogação de saber se essa
negação é estrutural ou se o resultado das eleições de setembro pode amenizar
essa posição. Por outro lado, as teses de R&R esbarram também com a desconfiança
alemã: o alívio da austeridade parece problemático e anulação da dívida com
injeção de capital adicional na banca mais exposta constitui uma miragem. Para
além disso, mesmo a política monetária expansionista do BCE conta com a oposição
sistemática do Bundesbank.
Moral da história: o lio persiste, mas não
envolvam a ciência económica na sua justificação, pelo menos a mais
esclarecida. Outros valores e teimosias o explicam.
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