sábado, 4 de maio de 2013

NO MEIO DA PONTE


O Banco Central Europeu baixou ontem a sua taxa de juro de referência em 25 pontos básicos, de 0,75% para 0,5%, o nível mais baixo de toda a história do euro. Esta alteração do preço oficial do dinheiro ocorre após 10 meses de inalterabilidade (a última baixa, de 1% para 0,75%, ocorrera em julho de2012), a despeito de uma continuada deterioração da situação económica europeia (que já vai em seis trimestres sucessivos em recessão).

Os analistas dividem-se. Para uns, é apontado um dedo responsabilizante à política do BCE – considerada completamente incompreensível em comparação com a dos seus congéneres americano e britânico – durante todo o período de recente crise financeira internacional. Veja-se, nesta perspetiva, como as taxas de referência têm estado persistemente em 0,25% (desde finais de 2008) nos Estados Unidos e em 0,5% (desde a primeira metade de 2009) no Reino Unido, enquanto na Zona Euro se mantiveram sempre em 1% ou acima até julho de 2012 e só agora voltaram a sofrer uma descida (que as equiparam às do BoE e apenas colocam a um nível duplo das do Fed). E não falta quem, perante tanto tempo perdido em inação, venha agora sustentar que o BCE deveria dar um passo “não convencional” e descer as taxas de juro para zero (ou até aplicar taxas de depósito negativas)…

Para outros, os níveis de taxas de juro já são suficientemente baixos para que possam considerar-se relevantemente significativos em termos de potenciarem um real estímulo do investimento. Nestes termos, a crítica justa não será tanto a do montante de referência fixado para as taxas mas bem mais a da clara incapacidade revelada pelo BCE para fazer com que o crédito chegue à economia real (veja-se ilustrativamente o caso espanhol no primeiro gráfico abaixo, também do “El País”), por um lado, e em condições inter-nacionais equilibradas, por outro (vejam-se, no segundo gráfico abaixo, os resultados do último survey publicado pelo BCE, “SME Access to Finance”, segundo os quais a percentagem de pequenas e médias empresas que reportam sucesso integral dos seus pedidos de crédito envolve o enorme intervalo que se estende de um máximo de 85% na Alemanha a um mínimo de 25% na Grécia).

 

Uma nota conclusiva: apesar de insistentes apelos no sentido de um outro tipo de intervenção por parte do BCE (ECB should consider ways of targeting SMEs directly, defendeu o “Financial Times” em editorial), há meses que Draghi não vai muito além de proclamações já próximas do esgotamento (“o BCE está preparado para fazer o que for preciso”, “se for necessário”) e de vagas promessas como, citando o “El País”, “estudar, preparar, valorar, projetar e duas dezenas de verbos parecidos”…

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