quarta-feira, 15 de maio de 2013

O GATO EM CIMA DA ÁRVORE



Deve ter sido imperdível o painel final da conferência “Rethinking Macro Policy II: First Steps and Early Lessons” que o FMI organizou em meados de Abril na sua sede de Washington. Tendo o programa sido construído com base na questão central de como a crise mudou o modo como é pensada a política macroeconómica, o que foi discutido em seis sessões iniciais (política monetária, políticas macroprudenciais, regulação financeira, política orçamental, ajustamentos de taxas de câmbio e gestão de contas de capital), veio a caber aos quatro organizadores – e que quatro! – o debate de encerramento em torno dos “Remaining Issues and Next Steps”.

Na foto acima, o momento em que o prémio Nobel de 2001, George A. Akerlof (Universidade de Berkeley, Califórnia), abria a sua intervenção com a seguinte imagem da atual crise: “isto é como se um gato tivesse trepado a uma enorme árvore e nós tivéssemos esse gato lá em cima e nos perguntássemos como o trazer para baixo, o que fazer”. Referindo ainda que a conferência serviu para revelar que ninguém tem a mesma opinião sobre o assunto e sublinhando a sua: “oh meu Deus, o gato está lá em cima, o gato vai cair”.

Um dos seus mais reputados colegas de Berkeley, David Romer, deixaria mais tarde o seu correspondente ponto de vista ao declarar: “Cinco anos numa crise desta magnitude, nós deveríamos estar ‘Oh meu Deus, o gato está na árvore há cinco anos, é tempo de trazer o gato para baixo e de descobrir a forma de evitar que o gato volte a subir à árvore’, mais do que ´vamos começar o discutir o que temos aprendido sobre gatos e árvores’”. Não sem acrescentar, tomando por base as três últimas décadas, a especificidade “embriagante” do presente choque face aos anteriores (colisão em três casos – crash de 1987, colapso do setor da poupança e crédito, implosão das dot-com – e seu contorno em dois – crise da dívida latino-americana dos anos 80 e default da Rússia nos anos 90).

Um outro prémio Nobel de 2001, Joseph E. Stiglitz (professor em Columbia), não fugiu também à problemática do gato na árvore – começando por confirmar que “sim, o gato está ainda lá em cima da tal árvore” e concluindo que “não há nenhuma boa teoria económica que explique porque é esse o caso e isso é, num certo sentido, um falhanço dos nossos modelos” –, mas sempre preferiu enfatizar a sua estranheza pelo facto de termos pensado que “tínhamos resolvido o business cycle e que esses temas eram matéria do passado”.

Já o principal anfitrião, Olivier Blanchard (conselheiro económico e diretor de investigação do FMI, também professor no MIT), se contentou com o reconhecimento de que “não temos o sentido do destino final”, com a confissão de que “ainda estamos muito em navegação à vista” e com o desabafo de que “não fazemos ideia do que a estabilidade financeira realmente significa”.

Mas, tudo somado, a síntese mais rigorosa do painel foi a que encontrei casualmente num colunista do “International Herald Tribune”, Eduardo Porter: “Os economistas e legisladores, que tinham sido criados a pensar que tudo quanto era necessário para fazer funcionar uma economia próspera era manterem a inflação baixa e empenharem-se em favor do equilíbrio orçamental e da desregulação, viram-se chegados a um mundo mais complexo. Neste mundo, as bolhas financeiras importam, os fluxos de capital são de mérito duvidoso, as baixas taxas de juro falham no estímulo ao crescimento e a despesa pública torna-se o único instrumento com real tração para estimular a atividade económica.”

Sem prejuízo de uma outra constatação: a de que o que está a acontecer é serem alguns dos melhores economistas a virem deliberadamente abalar a capacidade de compreensão coletiva da sua própria profissão. Decididamente, o fardo da vida já nos foi bem menos pesado…

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