Tenho de confessar à partida que o escriba Miguel
Sousa Tavares nunca atraiu as minhas simpatias, seja talvez pelas suas incursões
clubistas, seja pelo seu ar vagamente diletante que às vezes se acentua e que
me irrita profundamente, seja ainda pela sua visão do poder local que destila
por vezes nos seus escritos, alicerçada numa visão de ordenamento do território
própria de quem vive de fora e que gosta de manter alguns lugares intocáveis para
o poder usufruir de quando em vez.
Neste contexto, não admira que não subscreva a
opinião do meu colega de blogue quanto à pretensa coragem do escriba na já célebre
entrevista do palhaço ao Jornal de Negócios. Não morrendo de amores, antes pelo
contrário, pelo homem de Boliqueime, que por desgraça nossa, encarna bem alguma
forma de estar e ser português, impõe-se alguma justificação pelo facto de
achar que MST deu um tiro no pé e proporciona ao presidente um retocar de
forças e apoios que já ninguém estaria disposto a conceder-lhe.
O contexto em que é feita a pergunta a MST pelo
jornalista do Jornal de Negócios e cuja resposta dá origem à investigação da
Procuradoria Geral da República é muito claro e não oferece dúvidas: a questão
em discussão é a de saber se em Portugal nos tempos que correm há espaço para
um Beppe Grillo, ao qual MST responde que palhaço já o temos. Ora, a questão
relevante não é a de Beppe Grillo ser palhaço, mas antes a do modelo populista
da personagem, a sua cruzada contra o sistema político italiano e outras
características que explicaram a sua (e a do movimento que protagoniza) meteórica
emergência. Portanto, é isso que deve ser discutido e que deveria ser objeto de
opinião e não deixa de ser uma questão relevante, pois a classe política que
anda por aí tem posto o sistema a jeito para processos dessa natureza à
portuguesa. Não resistindo ao trocadilho barato, MST reduz a crítica política
justificada e necessária da ação inenarrável do homem de Boliqueime ao ponto
zero e mete-se por atalhos que a justiça dirá se penalizável ou não. E a
desculpa pública que dá para o facto ainda mais adensa a ideia do tiro no pé.
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