sábado, 25 de maio de 2013

TIRO NO PÉ?



Tenho de confessar à partida que o escriba Miguel Sousa Tavares nunca atraiu as minhas simpatias, seja talvez pelas suas incursões clubistas, seja pelo seu ar vagamente diletante que às vezes se acentua e que me irrita profundamente, seja ainda pela sua visão do poder local que destila por vezes nos seus escritos, alicerçada numa visão de ordenamento do território própria de quem vive de fora e que gosta de manter alguns lugares intocáveis para o poder usufruir de quando em vez.
Neste contexto, não admira que não subscreva a opinião do meu colega de blogue quanto à pretensa coragem do escriba na já célebre entrevista do palhaço ao Jornal de Negócios. Não morrendo de amores, antes pelo contrário, pelo homem de Boliqueime, que por desgraça nossa, encarna bem alguma forma de estar e ser português, impõe-se alguma justificação pelo facto de achar que MST deu um tiro no pé e proporciona ao presidente um retocar de forças e apoios que já ninguém estaria disposto a conceder-lhe.
O contexto em que é feita a pergunta a MST pelo jornalista do Jornal de Negócios e cuja resposta dá origem à investigação da Procuradoria Geral da República é muito claro e não oferece dúvidas: a questão em discussão é a de saber se em Portugal nos tempos que correm há espaço para um Beppe Grillo, ao qual MST responde que palhaço já o temos. Ora, a questão relevante não é a de Beppe Grillo ser palhaço, mas antes a do modelo populista da personagem, a sua cruzada contra o sistema político italiano e outras características que explicaram a sua (e a do movimento que protagoniza) meteórica emergência. Portanto, é isso que deve ser discutido e que deveria ser objeto de opinião e não deixa de ser uma questão relevante, pois a classe política que anda por aí tem posto o sistema a jeito para processos dessa natureza à portuguesa. Não resistindo ao trocadilho barato, MST reduz a crítica política justificada e necessária da ação inenarrável do homem de Boliqueime ao ponto zero e mete-se por atalhos que a justiça dirá se penalizável ou não. E a desculpa pública que dá para o facto ainda mais adensa a ideia do tiro no pé.

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