terça-feira, 14 de maio de 2013

PRECIOSIDADES (10)


George Steiner em entrevista ao “Le Monde”: “Assusta-me [o futuro da juventude estudantil]. Estamos a criar uma apatia nos jovens, uma ‘acédia’, grande palavra medieval sobre a qual Dante e S. Tomás de Aquino escreveram coisas formidáveis. Essa forma de torpor espiritual faz-me medo. O filatelista que está pronto a matar por um selo, esse, tem sorte.”

Uma afirmação que prolonga a que já se lhe tinha “ouvido” um ano atrás: “A Europa atravessa hoje uma crise dramática; ela está em vias de sacrificar uma geração, a dos seus jovens, que não creem no futuro. (…) Ora, se não somos agarrados na nossa juventude por uma esperança, seja ela ilusória, o que fica? Nada.”

Mas Steiner também quis explicar um outro racional das suas opções de vida: “Atualmente são as ciências que ocupam o alto da calçada, não as humanidades. Instalando-me em Princeton (New Jersey), na ‘casa’ de Einstein, e depois em Cambridge (Reino Unido), escolhi viver no meio dos príncipes da ciência. As ciências são o grande vetor do futuro. Mesmo se se é medíocre neste domínio, está-se como que integrado numa equipa que progride para o alto, num tapete rolante.”

Uma afirmação também muito em linha com uma outra que a precedera: “Hoje, uma imensa parte do universo é-nos fechada. O nosso mundo encolhe. As ciências tornaram-se-nos inacessíveis. Quem pode compreender as últimas aventuras da genética, da astrofísica, da biologia? Quem pode explica-las ao profano? Os saberes já não comunicam; os escritores e os filósofos são doravante incapazes de nos fazer ouvir a ciência.”

Onde agulhava, ainda, para uma problematização essencial da cultura: “Inquieto-me por saber o que quer dizer ‘ser letrado’ hoje – ‘to be literate’, a expressão é ainda mais forte em inglês. Pode ser-se letrado sem compreender uma equação não linear? A cultura está ameaçada de se tornar provincial. Talvez seja preciso repensar toda a nossa conceção da cultura.” Não sem mais personalizadamente confessar: “Ela [a cultura] torna suportável a existência. Não é alegre sermos mortais, não é de todo alegre. Somos todos confrontados com o cancro, o stress, o medo; cada dia pode trazer um adeus, e não há nada de mais angustiante. (…) Não posso passar um dia sem música, sem beleza, sem poesia. É a minha restauração de confiança, a minha sobrevivência.”

Sentindo o crepúsculo aos 84 anos, este enorme intelectual e pensador da existência, do mundo e do homem – a forma como “manipula a filosofia política, as ciências da educação, a teoria da linguagem e da tradução ou o ensino dos Clássicos” ressalta à vista no seu último livro (2011), recentemente traduzido pela “Relógio D’Água” – conclui com notável lucidez: “Agora que estou muito perto do meu fim, agarro-me a uma boutade que acho de uma profundidade estrondosa. Ela vem dos círculos yiddish de Brooklyn: ‘Será que existe um deus? – Certamente, mas ainda não’. Este ‘ainda não’ traz-me uma certa força interior.” Poesia, pois claro…

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