quarta-feira, 29 de maio de 2013

O EXEMPLO DO JAPÃO


Parece que é desta! Algo surpreendentemente, e sob a batuta de Shinzo Abe, tudo aponta para um Japão a querer despertar de um longuíssimo sono deflacionista de mais de quinze anos.

Chegado em dezembro último, o novo primeiro-ministro trazia um programa de mudança da estratégia económica cuja principal motivação subjacente terá estado, segundo alguns conhecedores da realidade nipónica, no efeito conjugado do “duplo choque” ocorrido em 2011 quando às terríveis implicações do tsunami e do acidente nuclear de Fukushima se veio juntar o abanão nacionalista provocado pela relegação do Japão para terceira economia do mundo em benefício da China.

No centro da receita, que já vai sendo conhecida pela designação de “Abenomics”, encontra-se um confronto com a dupla obsessão da estabilidade dos preços e do iene forte em que o país se deixara mergulhar. Para tal, o presidente do Banco do Japão (Haruhiko Kuroda) foi instado a abandonar a ortodoxia austeritária – ao que respondeu com um programa de lançamento maciço (21 mil milhões de dólares mensais) de obrigações do Tesouro –, enquanto o ministro para a Revitalização Económica e o Governo no seu conjunto introduziam reformas agressivas visando a incentivação fiscal e a competitividade internacional.

Os frutos começam a surgir, através de resultados já relativamente sólidos: crescimento económico anualizado de 3,5% no primeiro trimestre, forte relançamento do consumo interno, fixação de um objetivo de inflação de 2%, depreciação de 22% do iene em relação ao dólar, subida da bolsa de valores. Sem prejuízo das inúmeras dificuldades ainda a enfrentar, designadamente as associadas à permanência de fatores de risco tão variados quanto a enormidade da dívida pública (não muito longe de 250% do PIB), os traumas não inteiramente resolvidos de uma gigantesca crise bancária, a quebra e o envelhecimento populacional, a inércia instalada nos comportamentos ou as ineficiências regulatórias.

Dito tudo isto, finalizo com a sugestão egoísta de um convite urgente a Abe e Kuroda para um périplo europeu com paragens obrigatórias em Bruxelas, Frankfurt e Berlim. Porque, vista do lado desta nossa deprimente e deprimida Europa, a atual realidade japonesa tem muito para servir de inspiração aos chamados “responsáveis” que nos moldam/tramam o destino… 
 

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