quinta-feira, 23 de maio de 2013

O QUE DIZ AGORA ROGOFF?



É provável que o sono de Kenneth Rogoff e de Carmen Reinhart tenha sido atormentado nos últimos tempos pelo já célebre “coding error” da sua folha de EXCEL do artigo de 2010, que os projetou para o coração do debate em torno dos fundamentos (vãos ou justificados consoante as alternativas no debate) das políticas de austeridade como instrumento de desendividamento.
Mas há que reconhecer que Rogoff e Reinhart são ossos duros de roer e se têm desmultiplicado em artigos e tomadas de posição cujo objetivo é libertarem-se do estatuto de racionalizadores (involuntários ou deliberados) das correntes austeritárias, que já viveram melhores dias. Devido a este último pormenor, há quem veja nesta obsessão de demarcação uma retirada estratégica dos autores.
Hoje, no Project Syndicate, Rogoff volta à carga noutra direção, procurando marcar uma outra posição no contexto do debate em torno das desgraças da zona euro. O argumento de Rogoff vai no sentido de tentar demonstrar que a saída do problema da zona euro não está propriamente na defesa ou na rejeição das posições de Keynes, mas antes no reconhecimento de que a integração financeira e monetária europeia avançou demasiado em relação ao estado de desenvolvimento da união política, fiscal e bancária.
Rogoff invoca um editorial de Reinhart no Washington Post de 2010 segundo o qual o instrumento da austeridade fiscal para resolver os problemas das dívidas soberanas é um mito. E como solução é curto e grosso: reestruturação da dívida com redução da mesma para os países da Europa do Sul, assumida pelos países do Norte, com Alemanha à cabeça, através de injeção de capital nos seus bancos mais atingidos.
Esta aparentemente dura posição de Rogoff oculta entretanto uma limitação: mesmo com reestruturação e anulação parcial de dívida, subsiste um outro problema que é o da coordenação da política macroeconómica em toda a União Europeia e aí, por mais que Rogoff fuja do tema, o nome de Keynes vem sempre à baila.

Sem comentários:

Enviar um comentário