É provável que o sono de Kenneth Rogoff e de
Carmen Reinhart tenha sido atormentado nos últimos tempos pelo já célebre “coding error” da sua folha de EXCEL do
artigo de 2010, que os projetou para o coração do debate em torno dos
fundamentos (vãos ou justificados consoante as alternativas no debate) das políticas
de austeridade como instrumento de desendividamento.
Mas há que reconhecer que Rogoff e Reinhart são
ossos duros de roer e se têm desmultiplicado em artigos e tomadas de posição
cujo objetivo é libertarem-se do estatuto de racionalizadores (involuntários ou
deliberados) das correntes austeritárias, que já viveram melhores dias. Devido
a este último pormenor, há quem veja nesta obsessão de demarcação uma retirada
estratégica dos autores.
Hoje, no Project Syndicate, Rogoff volta à carga noutra direção, procurando marcar uma outra
posição no contexto do debate em torno das desgraças da zona euro. O argumento
de Rogoff vai no sentido de tentar demonstrar que a saída do problema da zona
euro não está propriamente na defesa ou na rejeição das posições de Keynes, mas
antes no reconhecimento de que a integração financeira e monetária europeia
avançou demasiado em relação ao estado de desenvolvimento da união política,
fiscal e bancária.
Rogoff invoca um editorial de Reinhart no
Washington Post de 2010 segundo o qual o instrumento da austeridade fiscal para
resolver os problemas das dívidas soberanas é um mito. E como solução é curto e
grosso: reestruturação da dívida com redução da mesma para os países da Europa
do Sul, assumida pelos países do Norte, com Alemanha à cabeça, através de injeção
de capital nos seus bancos mais atingidos.
Esta aparentemente dura posição de Rogoff oculta
entretanto uma limitação: mesmo com reestruturação e anulação parcial de dívida,
subsiste um outro problema que é o da coordenação da política macroeconómica em
toda a União Europeia e aí, por mais que Rogoff fuja do tema, o nome de Keynes
vem sempre à baila.
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