Quando no tempo longo o período que hoje vivemos
for interpretado com a distância necessária que só a história económica nos
proporciona, os historiadores e analistas e com eles a população que os ler
atentamente vão compreender o bizarro das escolhas públicas e de política económica
que estão a ser politicamente validadas.
De facto, o que as principais organizações internacionais
e governos, acolitados por economistas sem sentido da história, estão a pôr no
prato da balança são duas coisas bem contrastadas: de um lado, a defesa da
estabilidade do sistema financeiro, a todo o preço e sem olhar a meios; do
outro, a massa de desemprego. No penúltimo The
Economist, a revista concedia o lugar
da sua capa à geração de jovens dos 15 aos 24 sem emprego e sem estar a
frequentar atividades de educação ou formação, estimados na OCDE em cerca de 26
milhões de indivíduos. Se adicionarmos a este segmento do desemprego, os
segmentos mais velhos e os do desemprego de longa duração os números tornam-se
aterradores. Perante estes dois braços da balança, o dictat financeiro tem-se imposto e, objetivamente, a política económica
tem preferido a estabilidade financeira ao combate ao desemprego. Quando se
fala aqui de dictat isso não
significa ignorar a restrição financeira de algumas economia como a portuguesa,
como já aliás aqui foi sublinhado pelo colega de aventura.
Com a companhia do tempo longo, haverá quem se
interrogue sobre os mecanismos de decisão política que tornaram possível aquela
escolha, sobretudo num contexto em que as evidências e o suporte da teoria económica
mais esclarecida seriam suficientes para justificar outras opções. E os teóricos
do poder compreenderão então que a última fase da globalização, também
designada de “financialização aguda”, alterou profundamente o contexto do
poder, adulterando a relação entre eleitores e eleitos e fazendo a governação
ser atravessada e nalguns casos irremediavelmente capturada por processos e
mecanismos não “accountable” e nada transparentes.
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