quarta-feira, 8 de maio de 2013

DICTAT FINANCEIRO



Quando no tempo longo o período que hoje vivemos for interpretado com a distância necessária que só a história económica nos proporciona, os historiadores e analistas e com eles a população que os ler atentamente vão compreender o bizarro das escolhas públicas e de política económica que estão a ser politicamente validadas.
De facto, o que as principais organizações internacionais e governos, acolitados por economistas sem sentido da história, estão a pôr no prato da balança são duas coisas bem contrastadas: de um lado, a defesa da estabilidade do sistema financeiro, a todo o preço e sem olhar a meios; do outro, a massa de desemprego. No penúltimo The Economist, a revista concedia o lugar da sua capa à geração de jovens dos 15 aos 24 sem emprego e sem estar a frequentar atividades de educação ou formação, estimados na OCDE em cerca de 26 milhões de indivíduos. Se adicionarmos a este segmento do desemprego, os segmentos mais velhos e os do desemprego de longa duração os números tornam-se aterradores. Perante estes dois braços da balança, o dictat financeiro tem-se imposto e, objetivamente, a política económica tem preferido a estabilidade financeira ao combate ao desemprego. Quando se fala aqui de dictat isso não significa ignorar a restrição financeira de algumas economia como a portuguesa, como já aliás aqui foi sublinhado pelo colega de aventura.
Com a companhia do tempo longo, haverá quem se interrogue sobre os mecanismos de decisão política que tornaram possível aquela escolha, sobretudo num contexto em que as evidências e o suporte da teoria económica mais esclarecida seriam suficientes para justificar outras opções. E os teóricos do poder compreenderão então que a última fase da globalização, também designada de “financialização aguda”, alterou profundamente o contexto do poder, adulterando a relação entre eleitores e eleitos e fazendo a governação ser atravessada e nalguns casos irremediavelmente capturada por processos e mecanismos não “accountable” e nada transparentes.

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