A praga dos comentadores ex-políticos,
simplesmente em sabática, em transição para outros voos ou em corte definitivo
com a função, tornou-se incomodativa, sobretudo porque em muitos casos não
corresponde a uma capacidade de análise que valha a pena o esforço de os ouvir.
Em meu entender, com a exceção de alguns debates no Quadratura do Círculo que
contribuem efetivamente para uma melhor cultura política, os tempos de antena
dedicados ao comentário político são hoje mais uma fonte de informação
privilegiada que nem encontramos na comunicação do governo e da Presidência,
nem sequer por vezes na imprensa mais envolvida nos meandros políticos.
Alguns exemplos para explicitar o meu argumento:
- Marques Mendes tem vindo sistematicamente a pôr-se em bicos de pés produzindo revelações do mais puro inside político;
- O Professor Marcelo lá vai resistindo à tentação, mas de quando em vez investe pontualmente no Marcelo que já foi;
- António Lobo Xavier descaiu-se esta semana com a revelação de que a senhora Merkel e os alemães não morreriam de amores por programas de ajustamento rígidos como o da Troika em Portugal, abrindo aberta ou imprevistamente caminho a uma reabilitação do argumento de Sócrates de que teria acordo com a senhora Merkel para em torno do PEC IV obter ajuda financeira para Portugal; tenho dúvidas que ALX tenha apreendido a gravidade da sua informação e o que ela representa para no futuro distante se compreender a queda do governo minoritário de Sócrates;
- O mesmo António Lobo Xavier deixa cair que o modelo negocial imposto pela Troika é mais violento do que tem transparecido para a opinião pública, invocando certamente a sua própria experiência, creio eu, de discussão do novo modelo de tributação para o IRC;
- Morais Sarmento, hoje na RTP1, vem afirmar preto no branco que Cavaco terá evitado in extremis a demissão de Passos Coelho, na sequência da posição de Portas assumida já depois de compromisso com a Troika na chamada TSU de pensionistas.
A minha dúvida é se estamos perante
originalidades de comunicação política, já que da comunicação governamental só
há patadas de aterrorização ou mensagens erráticas, ou se noutros casos não
estaremos perante alter egos ou comunicadores não oficiais.
Tudo isto adensa o jogo de sombras em que
vivemos. Aliás também visível na cena europeia. Exemplo: esta semana fugas
deliberadas de informação provenientes de meios governamentais alemães zurziram
na Comissão Europeia como artífices desajeitados e incompetentes da governação
das crises soberanas. No dia seguinte, comunicados oficiais vieram repor o
decoro.
Isto está difícil de aguentar e de compreender.
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