terça-feira, 7 de maio de 2013

RESTRIÇÕES


O post de segunda-feira do colega e amigo Freire de Sousa, designado de “A restrição financeira”, ilustra bem a meu ver (e felicito-o por isso) o que pode ser um dos contributos mais originais deste blogue – destacar matérias de debate que se perdem normalmente na vertigem de confrontos políticos e que não resistem ao branco e preto que tais confrontos tendem a suscitar. Recordo-o após uma aparentemente bem sucedida experiência do governo de colocação de dívida a 10 anos e uma curiosa expressão do governador Banco de Portugal, Carlos Costa, que interpretou a bem sucedida operação de hoje como uma etapa no “caminho das pedras” que nos está reservado para uma normalização (para quando?) das condições de financiamento da economia portuguesa.
De facto, no auge do debate sobre a estratégia “self-defeating” e socialmente insensível que nos tem sido proposta como via pretensamente redentora de regresso ao financiamento, por vezes o branco e preto do debate faz-nos perder de vista que existe uma restrição financeira e que restrição. E a dimensão dessa dimensão impõe-se por si, independentemente de zurzirmos ou sermos complacentes com as evidências empíricas de Reinhart e Rogoff sobre o tal limiar pretensamente fatídico dos 90% do peso da dívida pública.
Alguém de bom senso que parta para este debate sem ideias feitas sabe que essa restrição não pode ser ignorada. Mas sabe também que o peso dessa restrição é tanto mais forte quanto menos promissoras forem as perspetivas de crescimento económico de uma economia. E o que acontece é que se prepara o regresso aos mercados sem se vislumbrar qualquer animação de crescimento económico e a passadeira vermelha para esse regresso tem espinhos comprometedores para esse crescimento, prolongando inapelavelmente os ventos recessivos que vêm do exterior. Numa situação desta natureza, face ao aumento desmesurado do peso da dívida pública, já na sequência e por força das consequências do resgate financeiro mas também da degradação do financiamento externo das empresas públicas, o deserto de crescimento atira a redução do peso da dívida pública para as calendas, tornando cada vez inevitável a ocorrência de processos de reestruturação dessa dívida. Tudo isto pressupondo que famílias e empresas conseguem reduzir níveis de dívida ao exterior para limites aceitáveis.
Mas a economia portuguesa apresenta outras restrições que o debate preto-branco tem escamoteado. E são restrições que afetam o próprio crescimento. O confronto entre o PS e a maioria em matéria de crescimento é débil e parece tudo resumir-se à questão do financiamento e do crédito.
Alguns exemplos de restrições que têm quedado fora do debate:
  • O matching necessário entre oferta e procura de qualificações na economia portuguesa;
  • Os défices de produtividade;
  • O equilíbrio necessário entre mercado interno e mercado externo;
  • A valorização equilibrada dos espaços territoriais de crescimento.
Já é tempo de encontrar respostas para ultrapassar estas restrições.

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