sábado, 4 de maio de 2013

PRECIOSIDADES (7)


Mais um artigo acutilante e certeiro de José Pacheco Pereira, no “Público” de hoje. Aqui fica um excerto aparentemente prosaico mas verdadeiramente cirúrgico em termos do seu alinhamento com a comunicação com que Passos ontem brindou o País:

· “(…) a pergunta a fazer é que significado teve o sacrifício dos portugueses nestes dois anos, em que cada pacote de austeridade foi sempre apresentado como último, para ser logo a seguir anunciado um novo, quando o Governo não conseguia os resultados que pretendia com o anterior. Em finais de 2011, Passos Coelho, quando questionado sobre se bastava o corte de meio subsídio de Natal, respondeu que sim. Logo a seguir, quando do anúncio do fim dos subsídios de Natal e de férias, quando questionado sobre se era suficiente, respondeu que sim. Em 2012, quando subiram os impostos, questionado sobre se chegava, Passos Coelho respondeu que sim. Em 2012, quando anunciada a subida da TSU, questionado sobre se essa medida seria eficaz, Passos Coelho respondeu que sim. Em 2012, quando se anunciou o enorme aumento de impostos’, que seria apenas para 2013, Passos Coelho garantiu que sim. Em 2012 e 2013, quando começou a falar da ‘refundação do Estado’ e dos quatro mil milhões, questionado sobre se isso resolvia o problema de adequar o financiamento do Estado aos recursos que os ‘portugueses estariam dispostos a pagar’, esta reforma era ‘estrutural’ e por isso fechava o ‘problema’.
A cada pacote de austeridade foi sempre pedido mais do que no pacote anterior e todas as medidas estão a ser cumulativas, e as que eram provisórias para 2011, 2012 ou 2013 continuam em aplicação para 2014, 2015, 2016, 2017, e algumas o ministro das Finanças aponta para 2020-2030. De medidas destinadas a resolver a situação de emergência de 2011-4, passaram a medidas para uma geração ou duas. Qualquer pessoa que tenha uma mínima ideia do que é uma democracia percebe que isto é errado, ilusório, mágico, milagroso, ou melhor ainda, um completo disparate.


Mais elaborada é, todavia, a conclusão deste primeiro ato demonstrativo de que “estamos pior do que há dois anos”. Ei-la:
· “A recusa do ‘consenso’ não foi o resultado de o Governo ser desajeitado, ou demasiado convencido, ou um ‘erro de comunicação’. Foi uma opção de fundo inteiramente consciente com um radicalismo que exigia fidelidade e zelo dos fiéis e dos convertidos, mas não tinha lugar para mais ninguém.

Uma situação que ninguém descreveria melhor do que o cartunista António no “Expresso” da semana passada: “passeando o cão”…

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