A ressaca desportiva? Poderia ser mas não a
considero como tal. O pior da semana é sem sombra de dúvidas a fragilidade do
estado de direito em Portugal, revelada na sequência dos apertos e desacertos
que o fecho da sétima avaliação da Troika introduziu na política interna. A
impunidade com que se joga com as expectativas dos cidadãos, especialmente
funcionários públicos e pensionistas, atingiu os limiares do desvario, com
jogos de sombras e palavreado para ninguém ficar em cheque, nem governo nem
instituições representadas na Troika. Aparentemente Paulo Portas entra como leão
e sai como sendeiro, mas tudo isto cheira a um faz de conta para ninguém ficar
chamuscado e a cegueira europeia não ter que arrepiar caminho. A sensação de
impotência total perante o dictat do
resgate valeu hoje a Vasco Pulido Valente uma das mais amargas crónicas sobre a
desgraça endémica nacional e o pior é que me revejo nessa amargura.
A partir desta situação de incomodidade doentia,
para que o PS possa perfilar-se como alternativa e justificar voto útil na
criação de um novo rumo a questão não é programática. Basta ser claro em relação
ao que fará se for maioria de governo, percorrendo um por um os desvarios de
governação que, um após outro, se perfilam perante os portugueses, cujo
rendimento disponível futuro tem variado e oscilado à medida das medidas,
pseudomedidas, preparações de medidas, hipóteses de trabalho, intenções para
Troika ver e outros desvarios. Porque se não for claro e a ambiguidade
persistir, então a opção entre as forças políticas do chamado arco da governação
e as restantes deixa de fazer sentido, porque face ao que isto chegou só de
facto resultados eleitorais de rutura poderão produzir algum efeito que se
veja. Há momentos em que a catarse é necessária.
A fotografia de Nuno Ferreira Santos que o Público on line escolhe para acolher os
resultados do conselho de ministros extraordinário de hoje, onde sobressai a
aceitação condicional do CDS de uma taxa de sustentabilidade sobre as pensões,
invadindo o princípio constitucionalmente sagrado da não retroatividade, é uma
boa alegoria do que está a passar-se na maioria. Entretanto, o homem de
Boliqueime estará a chá e torradas, revendo-se na sua própria impotência de
intervenção.
Pelas notícias de hoje, Gasparinho estará de
velas prontas para rumar para Bruxelas. Depois de ter escacado o suficiente,
acenam-lhe com a possibilidade de ser retribuído ao mais alto nível. Parece que
pegou a moda iniciada com Constâncio.
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