António Nóvoa no seu melhor no suplemento do Público
de hoje. Revigorante, um bom estímulo para mais uma semana tensa de trabalho,
com um contributo subordinado à ideia central de que o erro de Portugal foi
sempre o de nunca ter investido no território e no conhecimento, trocando essa
aposta pelo lado da partida, da viagem, da intermediação, do comércio.
Algumas dimensões que vale a pena reter:
Sobre o papel da universidade para Portugal pensar o seu futuro:
“A universidade portuguesa está a fazer bem o seu
trabalho na área da formação, na área da ciência, mas tem falhado na elaboração
de um pensamento crítico, numa reflexão sobre o país, numa capacidade de ir
para além de si mesma e de se voltar para o país. É preciso que o faça urgentemente.”
Combate ao produtivismo académico e mercantilização das universidades
“Alguns colegas europeus estão a trabalhar num manifesto
a favor da Slow Science, um manifesto a favor da ciência lenta, que é uma metáfora
contra a ideia do produtivismo, da multiplicação dos artigos, dos papers, de
uma vida controlada por outras dimensões. Felizmente, há muitas dinâmicas de
resistência dentro das universidades sobre essa matéria.
É preciso repensar as regras da avaliação da carreira
docente, o que obriga a um despertar dos professores dentro das universidades. Há
muita gente distraída em relação a essa matéria, muita gente resignada, como se
isso fosse uma fatalidade, e não é. Nós podemos organizar as nossas universidades
de outra maneira”.
Sobre a dimensão profissionalizante da universidade
“A universidade faz mal o seu trabalho quando
estreita os estudos universitários num sentido excessivamente
profissionalizante. Isso retira instrumentos às pessoas. O que dá a
maleabilidade de mudar de vida, de emprego, de fazer diversas coisas, é a
capacidade de pensar, de conhecer, de obter informação”.
A universidade não é um centro de formação profissional
(…) o que distingue uma universidade de um centro de
formação profissional são as dimensões de que temos estado a falar. O que
refere é um centro de formação profissional. Podem ser muito bons e, nessa
perspetiva, acho que a McDonald’s faz isso melhor do que uma universidade. As
universidades são feitas para formar pessoas numa pluralidade de dimensões,
culturais, sociais, intelectuais e outras, e resulta dessa formação que as
pessoas vão ter um emprego e vão dar uma contribuição à sociedade. Para formar
profissionais para fazer determinados gestos muito concretos e específicos, as
universidades são dispensáveis”.
Sem comentários:
Enviar um comentário