sexta-feira, 10 de maio de 2013

AVES RARAS E FOGOS DE ARTIFÍCIO



A precária coesão que o governo tem manifestado é compatível com a emergência no seu seio, sobretudo depois do último compasso da remodelação ensaiada, de personagens que desalinham de todo o descontrolo com agravamento em passo largo. Personagens que podem ser consideradas aves raras no espólio disponível. Poiares Maduro é seguramente no contexto atual da ação governativa uma ave rara. Com um curriculum de reconhecimento internacional indiscutível, desalinhado de ideias, o homem tem sido dissonante para o mal e para o bem de uma orquestra que já deixei de o ser há bastante tempo. Cândido e muito apoiado na sua figura de político desalinhado, quis convencer o auditório do Prós e Contras com uma interpretação sui generis da intervenção de Paulo Portas no domingo à noite que suscitou gargalhada geral, desenterrando a tese de que a comunicação social e comentadores construíram imediatamente após a intervenção do ministro de Estado uma narrativa que não corresponde ao seu entender verdadeiro sentido da referida intervenção. Por outro lado, puxando os galões do seu curriculum europeu, avança com teses sobre a construção europeia que o governo nunca equacionou. Mais ainda, ou muito me engano, ou esta ave rara prepara um modelo de gestão do futuro QREN dos mais centralizados que se pode imaginar, com atribuição aos ministérios setoriais de quotas de Fundos Estruturais bem generosas para tentar compensar a falta de graveto para fazerem alguma coisa que se veja. Ave rara, que merece monitorização atenta.
Passemos aos fogos de artifício. E vamos entrar num tempo de fogos para todos os gostos e não será porque as festas populares se aproximam. A existência de deputados da maioria que vão ser candidatos às eleições autárquicas pelo PSD, bem como outros que embora não sendo deputados sempre se colaram ao avanço para o poder da linha Relvas-Passos Coelho, vai ser fonte de fogos de artifício de grande porte. Uma personalidade como Carlos Abreu Amorim (CAA) que um Eça de Queiroz regressado ao país zurziria com toda a sua ironia, com a manifesta desproporção da leveza de ideias face ao seu peso, iniciou os festejos com uma declaração bombástica na cerimónia de apresentação dos candidatos às Juntas de Freguesia. Disse o artista que o tempo de Vítor Gaspar acabou, que o tempo da tecnocracia implacável responsável pelo acertar das coisas deveria dar lugar ao tempo dos políticos, os únicos capazes de gerir a fase de crescimento que o protagonista do slogan “Gaia não pode parar” descortinou sabe-se lá em que ritual de adivinhação. Ora aqui está uma das tais “narrativas” que têm por função exclusiva suscitar uma outra realidade que não a trágica que vivemos. Ora, nem os tecnocratas acertaram as coisas, antes as fizeram descambar para custos de subaproveitamento de recursos colossais, como não se entende bem porque é que o ciclo anunciado do crescimento será tempo dos políticos. Será que CAA já estará imbuído do fulgor construtivo de Meneses e entende o ciclo de crescimento à medida do “Gaia não pode parar”?
Outros fogos se seguirão. Veremos nos próximos tempos candidatos do PSD a fazer de conta que nunca estiveram perto da maioria e da sua política e ou muito me engano ou o Gasparinho vai ser o bombo da festa. Oxalá que muitos destes artistas não tenham a oportunidade de saber o que é o poder local ou, se vierem a ter essa possibilidade (cruzes credo), oxalá que não tenham ainda o Gasparinho à perna durante algum tempo, a cortar-lhes as vazas do obreirismo local. Seria demasiado mau para ser verdade.

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