Does Education Matter?: Myths About Education and Economic Growth foi um livro publicado no início da década de
2000, mais propriamente em 2002, de autoria de Alison Wolf que me marcou
profundamente. Tratava-se, então, da primeira crítica consistente aos sistemas
educativos, neste caso do britânico, enquanto sistemas baseados essencialmente
na despesa (input-based) como forma
de justificar o seu crescimento. Discutia-se então a resistência desses
sistemas a serem avaliados do ponto de vista dos resultados alcançados, no
fundo uma forma de situar as diferenças entre escolaridade e educação, entre
estar numa escola e aprender a aplicar o conhecimento. Não sei se Maria Lurdes
Rodrigues terá lido o livro, muito provavelmente sim. Foi o governo de Sócrates
com Maria Lurdes Rodrigues como ministra da Educação que introduziu as
primeiras lógicas de avaliação de resultados no sistema e sabemos o que isso
provocou. Certamente hoje alguns dos críticos mais convictos da antiga ministra
estariam dispostos, face ao sorrisinho manso e hipócrita do ministro Crato e ao
que os apoquenta, a afirmar “Maria de Lurdes volta que estás perdoada”.
No New YorkTimes de ontem, a jornalista Annie Lowrey na interessante e sempre por nós
visitada coluna Economix volta ao tema sobretudo em torno da obra e investigação
de um economista do desenvolvimento, Lant Pritchett, investigador no think tank de Washington, Center for Global Development, que
considero ser hoje em dia a fonte de pensamento mais inovador sobre as questões
do desenvolvimento. A entrevista está disponível naquela coluna e tem material
de muito interesse sobretudo para compreendermos a relação entre a educação e o
crescimento económico, em regra apropriada pelo conceito de capital humano.
A pesquisa de Pritchett que se espraia pelo mundo
desenvolvido e em desenvolvimento questiona se o aumento da escolaridade, medida
pelo número de anos em que os jovens se encontram na Escola em atividades educativas,
constitui um indicador seguro do nível de educação obtido. E conclui que, em
muitos casos, esse desvio pode ter proporções significativas complicando a
medida do contributo efetivo da educação para o crescimento económico. E
conclui ainda que a minimização desse desvio pode constituir um indicador
precioso da qualidade dos sistemas educativos. Outros economistas já mostraram
que é sobretudo a dotação em capacidades cognitivas que influencia o
crescimento económico e não apenas o número de anos de escolaridade.
Por isso, Pritchett foca sobretudo a necessidade
de pensar em termos de sistema educativo, tendo em conta a sua globalidade e lógica
de orientação: centrada na aprendizagem e não necessariamente na magnitude de frequência.
Adicionalmente, defende soluções organizativas orientadas em função do
contexto, designadamente local, que pode inclusivamente integrar a presença do
ensino privado.
Numa época em que estão a chegar ao sistema
educativo português públicos cada vez mais exigentes em termos de aprendizagem,
sobretudo pelo seu passado (algum do qual já fora do sistema) e pela degradação
dos meios familiares em que se inserem, a reflexão de Pritchett ser-nos-á bem útil.
E a primeira avaliação da consequência das suas reflexões não é animadora: por
razões bem conhecidas e pela inépcia e atraso com que a lógica de orientação
política foi definida, nem o sistema está de boa saúde, com um capital de
confiança reduzido entre os seus protagonistas e de descentralização efetiva
estamos falados.
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