quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MOREIRA, COSTA, NOVAS ARAGENS



Dizem os jornalistas que estiveram presentes na tomada de posse de Rui Moreira como novo Presidente da Câmara Municipal do Porto que a personalidade Rui Rio se comoveu com a saída de palco. Vá lá saber-se porque é que isso aconteceu. Poderá ter sido pelo próprio discurso de Moreira ou apenas porque todo o durão inflexível tem o seu momento de distensão e terá acontecido naquele momento. Mas é seguramente o menos importante, sobretudo enquanto não soubermos o que o dito pretende fazer.
O que, entretanto, me interessa são outras aragens que terão passado por aquela cerimónia. Já aqui expressei em tempo oportuno a mais sincera autocrítica sobre a não previsão das condições de êxito da campanha de Rui Moreira e do que poderão ter significado as aproximações que determinaram o excelente resultado obtido. Está dito e resta dar os parabéns a todos os que contribuíram para a derrota do aparelho do PSD e de parte do PS. Mas a meu ver há matéria mais interessante do que reconhecer que como comentador político também não será por aí que a glória chegará.
Quem tem ouvido com atenção o que vai sendo dito em torno das eleições no Porto e do acordo de governação local que Rui Moreira e Manuel Pizarro conseguiram por em prática, apesar do obstáculo PS Porto que saliva a chegada do poder, vai percebendo que coisas novas pairam no ar. O significado dessas coisas novas adquire novos cambiantes com a presença de António Costa na cerimónia da tomada de posse e com as suas declarações aos jornalistas no fim dessa cerimónia.
Aliás, é muito sugestivo o confronto do que se vai ouvindo a Seguro e a Costa neste momento. Seguro desliza pelo discurso meramente formal na Assembleia da República e cavalga a ideia se há ou não segundo resgate ou programa cautelar para atribuir nessa hipótese as culpas a Passos Coelho pelo desastre da governação. Mas nada mais do que isso em termos de afirmação de que constitui alternativa ao atual estado de coisas. Nesse plano da retórica meramente formal, a impreparação do primeiro-Ministro sai disfarçada e até pode dar-se ao luxo de entalar Seguro atirando-lhe com a fixação nas eleições antecipadas. Em contrapartida, Costa vai fazendo um discurso de governação alternativa e capitaliza o que para muitos foi a única vitória do PS em termos autárquicos com dimensão nacional. A sua aprovação do acordo de governação no Porto, com um PS titubeante e aturdido, e a sua própria experiência de alianças em Lisboa de matriz não essencialmente partidária, mostra que há caminhos alternativos. E, de facto, entre essa matriz de governação de Costa e algumas dimensões do que pode ser a governação de Moreira em regime de acordo com Pizarro, podem emergir convergências interessantes em matéria de escolhas públicas locais. Ambas as governações parecem conviver bem com a moderação e ponderação orçamental, condição necessária para afirmar a relevância das escolhas públicas alternativas que venham a ser definidas nas duas Cidades.
Quem diria que as duas Cidades tenderiam a ficar mais próximas e que do seu Governo nos tempos mais próximos poderão resultar esperanças de que algo pode mudar?

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