Dizem os jornalistas que estiveram presentes na
tomada de posse de Rui Moreira como novo Presidente da Câmara Municipal do
Porto que a personalidade Rui Rio se comoveu com a saída de palco. Vá lá
saber-se porque é que isso aconteceu. Poderá ter sido pelo próprio discurso de
Moreira ou apenas porque todo o durão inflexível tem o seu momento de distensão
e terá acontecido naquele momento. Mas é seguramente o menos importante,
sobretudo enquanto não soubermos o que o dito pretende fazer.
O que, entretanto, me interessa são outras aragens que terão
passado por aquela cerimónia. Já aqui expressei em tempo oportuno a mais sincera
autocrítica sobre a não previsão das condições de êxito da campanha de Rui
Moreira e do que poderão ter significado as aproximações que determinaram o
excelente resultado obtido. Está dito e resta dar os parabéns a todos os que
contribuíram para a derrota do aparelho do PSD e de parte do PS. Mas a meu ver
há matéria mais interessante do que reconhecer que como comentador político
também não será por aí que a glória chegará.
Quem tem ouvido com atenção o que vai sendo dito
em torno das eleições no Porto e do acordo de governação local que Rui Moreira
e Manuel Pizarro conseguiram por em prática, apesar do obstáculo PS Porto que
saliva a chegada do poder, vai percebendo que coisas novas pairam no ar. O
significado dessas coisas novas adquire novos cambiantes com a presença de António
Costa na cerimónia da tomada de posse e com as suas declarações aos jornalistas
no fim dessa cerimónia.
Aliás, é muito sugestivo o confronto do que se
vai ouvindo a Seguro e a Costa neste momento. Seguro desliza pelo discurso
meramente formal na Assembleia da República e cavalga a ideia se há
ou não segundo resgate ou programa cautelar para atribuir nessa hipótese as
culpas a Passos Coelho pelo desastre da governação. Mas nada mais do que isso
em termos de afirmação de que constitui alternativa ao atual estado de coisas. Nesse
plano da retórica meramente formal, a impreparação do primeiro-Ministro sai
disfarçada e até pode dar-se ao luxo de entalar Seguro atirando-lhe com a fixação
nas eleições antecipadas. Em contrapartida, Costa vai fazendo um discurso de
governação alternativa e capitaliza o que para muitos foi a única vitória do PS
em termos autárquicos com dimensão nacional. A sua aprovação do acordo de
governação no Porto, com um PS titubeante e aturdido, e a sua própria experiência
de alianças em Lisboa de matriz não essencialmente partidária, mostra que há
caminhos alternativos. E, de facto, entre essa matriz de governação de Costa e
algumas dimensões do que pode ser a governação de Moreira em regime de acordo
com Pizarro, podem emergir convergências interessantes em matéria de escolhas públicas
locais. Ambas as governações parecem conviver bem com a moderação e ponderação
orçamental, condição necessária para afirmar a relevância das escolhas públicas
alternativas que venham a ser definidas nas duas Cidades.
Quem diria que as duas Cidades tenderiam a ficar
mais próximas e que do seu Governo nos tempos mais próximos poderão resultar
esperanças de que algo pode mudar?
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