“Fazer crescer a economia a partir do meio e não a partir de
cima para baixo é a única maneira de construir uma prosperidade larga e
duradoura prosperidade.”
Estas palavras pertencem a um artigo de John Podesta e Neera Tanden no Guardian de 24 de outubro que discute ideias
alternativas neste caso para a economia americana e sobre o que tais ideias
podem representar como alternativa sólida e viável para o paradigma da austeridade.
O referencial do artigo é dado por um estudo
recente do Center for American Progress,
um instituto de educação sem filiação partidária criado nos Estados Unidos da
América há 10 anos. O estudo chama-se sugestivamente “300 Million Engines of Growth” e constitui uma das mais
consistentes defesas do papel da classe média como base dos processos de
crescimento económico. O contexto da economia americana é crucial para entender
o alcance do estudo, sobretudo porque nos últimos 20 anos a classe média
americana tem sido objeto de uma longa degradação de posição relativa, em
oposição aos ganhos progressivos dos já famosos 1% da população americana.
Uma classe média forte e crescente constitui
segundo os autores o sustentáculo de uma economia com potencial duradouro de
crescimento económico.
A desigualdade na distribuição do rendimento e a
degradação relativa do grupo social que se convencionou designar por classe média,
qualquer que seja o critério a que se recorra para medir a sua dimensão quantitativa,
tem sido um dos efeitos mais regulares da crise financeira e das políticas de
austeridade. Portugal não foge à regra. Mas neste caso, levanta-se a questão
sociológica de saber que configuração tem a classe média portuguesa. Como é
conhecido, Vasco Pulido Valente tem a tese de que a classe média portuguesa é
um produto histórico da proximidade face ao Estado, sendo dele dependente e sem
o qual não teria existência. Se aceitássemos esta tese sem discussão, então a
classe média portuguesa estaria sob fogo permanente da atual governação, pois
os funcionários públicos e pensionistas do Estado estão a ser forçados a um
empobrecimento gradual e progressivo. E se assim fosse como seria possível
promover um processo de crescimento duradouro para a sociedade portuguesa sem a
presença de uma classe média pujante e não dependente do Estado?
É uma questão pertinente pois, por mais
defensores que sejamos das realizações do Estado social em Portugal, grande parte
de nós compreende que o peso e o papel do Estado têm de ser reconsiderados. O
que, a ser válida a tese de Vasco Pulido Valente, nos obrigaria a formar de
raiz uma nova classe média, com outras origens que não a sombra do Estado.
Uma boa questão para discutir uma alternativa de
governação que coloque a agenda do crescimento de novo no centro das preocupações
das políticas públicas.
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