terça-feira, 29 de outubro de 2013

CRESCIMENTO E CLASSE MÉDIA



Fazer crescer a economia a partir do meio e não a partir de cima para baixo é a única maneira de construir uma prosperidade larga e duradoura prosperidade.”
Estas palavras pertencem a um artigo de John Podesta e Neera Tanden no Guardian de 24 de outubro que discute ideias alternativas neste caso para a economia americana e sobre o que tais ideias podem representar como alternativa sólida e viável para o paradigma da austeridade.
O referencial do artigo é dado por um estudo recente do Center for American Progress, um instituto de educação sem filiação partidária criado nos Estados Unidos da América há 10 anos. O estudo chama-se sugestivamente “300 Million Engines of Growth” e constitui uma das mais consistentes defesas do papel da classe média como base dos processos de crescimento económico. O contexto da economia americana é crucial para entender o alcance do estudo, sobretudo porque nos últimos 20 anos a classe média americana tem sido objeto de uma longa degradação de posição relativa, em oposição aos ganhos progressivos dos já famosos 1% da população americana.
Uma classe média forte e crescente constitui segundo os autores o sustentáculo de uma economia com potencial duradouro de crescimento económico.
A desigualdade na distribuição do rendimento e a degradação relativa do grupo social que se convencionou designar por classe média, qualquer que seja o critério a que se recorra para medir a sua dimensão quantitativa, tem sido um dos efeitos mais regulares da crise financeira e das políticas de austeridade. Portugal não foge à regra. Mas neste caso, levanta-se a questão sociológica de saber que configuração tem a classe média portuguesa. Como é conhecido, Vasco Pulido Valente tem a tese de que a classe média portuguesa é um produto histórico da proximidade face ao Estado, sendo dele dependente e sem o qual não teria existência. Se aceitássemos esta tese sem discussão, então a classe média portuguesa estaria sob fogo permanente da atual governação, pois os funcionários públicos e pensionistas do Estado estão a ser forçados a um empobrecimento gradual e progressivo. E se assim fosse como seria possível promover um processo de crescimento duradouro para a sociedade portuguesa sem a presença de uma classe média pujante e não dependente do Estado?
É uma questão pertinente pois, por mais defensores que sejamos das realizações do Estado social em Portugal, grande parte de nós compreende que o peso e o papel do Estado têm de ser reconsiderados. O que, a ser válida a tese de Vasco Pulido Valente, nos obrigaria a formar de raiz uma nova classe média, com outras origens que não a sombra do Estado.
Uma boa questão para discutir uma alternativa de governação que coloque a agenda do crescimento de novo no centro das preocupações das políticas públicas.

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