(Brink Lindsey is a
senior fellow at the Cato Institute and the author, most recently, of
Human Capitalism: How Economic Growth Has Made Us Smarter—and More
Unequal)
Hoje não me atrevo a falar
sobre a situação portuguesa, sobre a palhaçada dos dois governos que se tramam
mutuamente e que explicam em público o que a outra parte tem para dizer, sobre
a salgalhada cruel que se anuncia a partir do Orçamento para 2014.
Não porque não tenha ganas
de o fazer, zurzindo na governação mais desrespeitosa e impreparada de que
tenho memória. Mas sobretudo porque depois das crónicas de hoje de Vasco Pulido
Valente (“Prodigalidade e improvisação”) e de Pacheco Pereira (“O Gӧtterdämmerungzinho”),
ambas no Público de hoje, está tudo dito, assina-se por baixo e difunde-se por
todos que tenham ainda dois dedos de testa para pensar e, sobretudo, resistência
e lucidez.
Por isso, deixo hoje a
situação portuguesa a essas duas crónicas de estalo e viro-me para o que se
passa na economia americana, algo que de cujo desfecho dependerá muito da possibilidade
de manter uma atuação crítica sobre o pensamento que, com Barroso, Rehn e
outras peças de calibre similar, vai cavando a sepultura europeia anunciada.
A América de Obama, tão
abaixo das expectativas que criou na Europa, vive no momento dois processos
rocambolescos, claramente interrelacionados, que se podem abater sobre uma frágil
economia mundial como um fator poderoso de prolongamento da mais lenta
recuperação de uma crise financeira de que há memória recente: o apagão da
administração pública federal e o precipício fiscal que tem vindo a ameaçar a
solvência da dívida pública americana. Por detrás de tudo isto, estão
obviamente posições radicais extremadas de fações republicanas e, em menor
dimensão, de democratas. A chegada de Janet Yellen ao FED dá alguma segurança a
tudo isto, mas implícito no rocambolesco da situação em que a economia americana
se encontra está um bloqueamento do crescimento económico na economia
americana.
Brink Lindsey, no Policy Analysis nº 737 do Cato Institute, tem um artigo sugestivo sobre essa questão (Why growth is getting harder?).
O artigo de Lindsey é muito
pedagógico pois situa o problema da economia americana em duas perspetivas de análise:
- Uma, a que já neste blogue me tenho referido repetidas vezes, diz respeito à desaceleração, estagnação ou atenuação ilusória da progressão das ideias inovadoras sobre novos produtos e processos produtivos capazes de gerar crescimento económico a longo prazo e compensar a destruição de produtos e processos obsoletos;
- Uma outra que pressupõe que a inovação não ocorre e que o crescimento do produto percapita e do bem-estar material da população depende de quatro fatores dinâmicos: a taxa de variação da participação do trabalho medida por exemplo pelas horas trabalhadas percapita; a variação da qualidade do trabalho medida imperfeitamente pela melhoria das suas qualificações; o crescimento do capital investido por trabalhador e a variação da produtividade global dos fatores que mede essencialmente as melhorias de eficiência na combinação entre trabalho e capital.
Curiosamente, em ambas as perspetivas predomina
algum pessimismo entre os economistas.
No tema da inovação, há quem pense que a história
desta vez não vai renovar-se e que a capacidade de inovação da economia
americana está em desaceleração. Robert Gordon tem sido o economista que mais
tem trabalhado esta vertente de discussão. A minha modesta posição aponta antes
para o facto da economia americana, e consequentemente a economia mundial,
estar numa fase de transição entre dois ciclos longos, não sendo ainda visível
qual vai ser o conjunto de atividades motoras de um novo ciclo longo. Esperemos
que viva o suficiente para saber se estou ou não enganado.
O artigo de Lindsey é mais prosaico e mostra que os
quatro fatores dinâmicos que explicam a dinâmica de crescimento do produto
percapita estão todos em queda na economia americana e com perspetivas para
continuar essa queda. O que leva Lindsey a uma conclusão prosaica: terá de ser
a inovação a compensar o efeito depressivo provocado por estes quatro
fatores-chave da dinâmica económico num ambiente de progresso técnico
estabilizado.
Más notícias para o curto médio prazo da economia
americana e consequentemente maior ênfase necessária nas políticas públicas para
assegurar a transição. Paradoxalmente, os republicanos mais radicais ameaçam
fechar o país e o Estado.
Foi você que pediu republicanos mais
inteligentes?
P.S. Um grande abraço de parabéns à Elisa
Ferreira pelo justíssimo prémio de carreira da FEP, com relevo para o seu
trabalho atual no Parlamento Europeu em torno de uma alternativa de gestão macroeconómica,
monetária e financeira para a União que bem precisamos e que por isso exige
continuidade de trabalho e de luta, motivos suficientes para justificar a sua
permanência naquela tribuna.
O turbilhão de trabalho em que me encontro ditou
a minha ausência e daí o abraço através deste blogue.
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