domingo, 6 de outubro de 2013

AFIRMA MOREIRA



Quem seguiu a campanha autárquica na cidade do Porto mais de perto tem referido que a sabedoria da população dos bairros do Porto se traduziu em comer de bom grado o porco que Meneses lhe oferecia e simultaneamente votar em Rui Moreira. Este último terá tido inclusivamente eco direto desta sabedoria, havendo populares que lhe disseram isso mesmo, sossegando-o de que apesar do aparato o voto ser-lhe-ia atribuído.
A longa e meditada entrevista que Rui Moreira concedeu ao Jornal de Notícias de sábado parece querer representar algo de similar, noutro plano claro está, no que respeita à relação entre o legado de Rio e a ação futura de Moreira. O novo presidente parece de facto não enjeitar a identificação com a tão propagada capacidade de Rio equilibrar contas e ajustar o investimento municipal a um nível de endividamento gerível e não suscetível de comprometer irremediavelmente o futuro. Essa identificação parece incontornável atendendo à comedida campanha que Moreira protagonizou em termos de propostas de investimento. Mas o que parece ressaltar da entrevista é a procura por parte do novo Presidente de uma demarcação clara em certos domínios de intervenção, como o são essencialmente a cultura e o posicionamento da Câmara em relação ao sistema de atores da Cidade, onde o relacionamento com o projeto e marca FCP deve ser entendido. Tal demarcação parece de facto oportuna e creio mesmo que corresponderá ao próprio posicionamento pessoal do então candidato e agora presidente eleito.
Duas grandes interrogações se colocam em torno do projeto de 4 anos de liderança independente e acordos de governação pontuais ou estruturados com as forças políticas representadas na Cidade.
A primeira prende-se com a Câmara concreta que Rui Moreira encontrará na anunciada troca de pastas e preparação da tomada de posse. Receio bem, oxalá não me engane, que para além do equilíbrio financeiro que Rio deixará, algumas das decisões que conduziram a esse equilíbrio aí não esgotem, deixando alguns rumos ou negociações por concretizar com efeitos na despesa futura. Veremos.
A segunda diz respeito ao modo como uma governação que Pacheco Pereira hoje classifica de má-fé facilitará ou dificultará a vida ao novo executivo. Não podemos ignorar o “pequeno” pormenor da hipócrita relação hoje vigente no seio da maioria ter tido nas eleições do Porto talvez a sua expressão mais significativa. Assim sendo, poderemos ter no futuro uma tensão mais ou menos surda entre dois campos: por um lado, o apoio da governação CDS-PP e da social-democracia respeitável e veneranda hoje afastada da governação PSD (não é nesta categoria que incluo Miguel Veiga) tentarão criar a Rui Moreira condições favoráveis para o seu projeto; por outro lado, a eventualmente vingativa governação PSD representada no mais desenfreado arrivismo poderá manter as pretensões de Moreira à distância, já que o êxito eventual da sua governação poderá mostrar que o rei vai nu na maioria.
Interessante e sugestivo para monitorização futura.

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