Quem seguiu a campanha autárquica
na cidade do Porto mais de perto tem referido que a sabedoria da população dos
bairros do Porto se traduziu em comer de bom grado o porco que Meneses lhe
oferecia e simultaneamente votar em Rui Moreira. Este último terá tido
inclusivamente eco direto desta sabedoria, havendo populares que lhe disseram
isso mesmo, sossegando-o de que apesar do aparato o voto ser-lhe-ia atribuído.
A longa e meditada entrevista
que Rui Moreira concedeu ao Jornal de Notícias de sábado parece querer
representar algo de similar, noutro plano claro está, no que respeita à relação
entre o legado de Rio e a ação futura de Moreira. O novo presidente parece de
facto não enjeitar a identificação com a tão propagada capacidade de Rio
equilibrar contas e ajustar o investimento municipal a um nível de
endividamento gerível e não suscetível de comprometer irremediavelmente o
futuro. Essa identificação parece incontornável atendendo à comedida campanha
que Moreira protagonizou em termos de propostas de investimento. Mas o que
parece ressaltar da entrevista é a procura por parte do novo Presidente de uma
demarcação clara em certos domínios de intervenção, como o são essencialmente a
cultura e o posicionamento da Câmara em relação ao sistema de atores da Cidade,
onde o relacionamento com o projeto e marca FCP deve ser entendido. Tal
demarcação parece de facto oportuna e creio mesmo que corresponderá ao próprio
posicionamento pessoal do então candidato e agora presidente eleito.
Duas grandes interrogações
se colocam em torno do projeto de 4 anos de liderança independente e acordos de
governação pontuais ou estruturados com as forças políticas representadas na
Cidade.
A primeira prende-se com a Câmara
concreta que Rui Moreira encontrará na anunciada troca de pastas e preparação
da tomada de posse. Receio bem, oxalá não me engane, que para além do equilíbrio
financeiro que Rio deixará, algumas das decisões que conduziram a esse equilíbrio
aí não esgotem, deixando alguns rumos ou negociações por concretizar com
efeitos na despesa futura. Veremos.
A segunda diz respeito ao
modo como uma governação que Pacheco Pereira hoje classifica de má-fé facilitará
ou dificultará a vida ao novo executivo. Não podemos ignorar o “pequeno”
pormenor da hipócrita relação hoje vigente no seio da maioria ter tido nas
eleições do Porto talvez a sua expressão mais significativa. Assim sendo, poderemos
ter no futuro uma tensão mais ou menos surda entre dois campos: por um lado, o
apoio da governação CDS-PP e da social-democracia respeitável e veneranda hoje
afastada da governação PSD (não é nesta categoria que incluo Miguel Veiga) tentarão criar a Rui Moreira condições favoráveis
para o seu projeto; por outro lado, a eventualmente vingativa governação PSD
representada no mais desenfreado arrivismo poderá manter as pretensões de
Moreira à distância, já que o êxito eventual da sua governação poderá mostrar
que o rei vai nu na maioria.
Interessante e sugestivo para
monitorização futura.
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