quinta-feira, 31 de outubro de 2013

POR UM ESTADO PÓS-BUROCRÁTICO!


Estive a ler as 112 páginas de “Um Estado Melhor”, documento que Paulo Portas (PP) hoje longamente apresentou aos portugueses e de que tinha ouvido alguns excertos radiofónicos seguidos de um comentário vazio e laudatório de Daniel Proença de Carvalho e de uma crítica irritada e demolidora de António José Teixeira.

A maioria dos comentadores da noite pareceu convergir na ideia de que o dito guião corresponde a uma espécie de programa de Governo apresentado dois anos e meio depois de o mesmo estar em exercício de funções – desnecessário e redundante seria ele, portanto. Discordo em absoluto: o guião tem uma utilidade fundamental e essa é a de PP poder dizer que cumpriu, tarde e a más horas mas aviou o assunto e assim espera ter retirado da agenda pública uma matéria que diariamente lhe seringava as orelhas.

Mas aquilo de que mais me lembrei ao consultar o documento foi de uma velha canção cujo refrão rezava acima: “Paroles, paroles, paroles, paroles, paroles / Encore des paroles que tu sèmes au vent”. Porque a elasticidade de princípios em PP é pouco menos do que infinita! Além de uma espécie de campeão de ideias feitas e de mezinhas tão consensuais quanto inofensivas, de um despudorado vendedor de banha da cobra e de um ventríloquo repetidor de arrazoados de cara pouco condizente com a careta, PP pensa-se sobretudo impune – assim como que um genial “encantador de serpentes” (portuguesas, no caso) que a tudo se pode autorizar sem que daí lhe advenham quaisquer correspondentes consequências.

Não obstante, ficará como definitivamente positivo um incomensurável contributo para a teoria política, veiculado por PP e traduzido no novel conceito de “estado pós-burocrático” – assim definido: “Menos legiferante, menos regulamentador, menos intervencionista. Mais competitivo, mais orientado para resultados, mais descentralizado e, sobretudo, mais aberto, mais transparente e mais simples para os cidadãos e as empresas.” Por conhecer fica ainda o nome do brilhante assessor/consultor/professor que, ademais de inventar o dito conceito, lhe escreveu o guião e produziu aquele inolvidável capítulo sobre “um Estado moderno no século XXI” – um ideólogo dos sete costados!

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