quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A AUSTERIDADE MEDIDA EM ANOS


Nada melhor do que o gráfico acima (extraído do recentíssimo “European Economics Focus” da “Capital Economics”, intitulado “Does Europe still face default?” e editado por Roger Bootle e Jonathan Loynes) para assinalar com a devida pompa a noite em que Albuquerque veio anunciar aos portugueses o que Luís Nobre Guedes já designou por “tsunami social, confisco fiscal e enorme desolação política”.

Utilizando um modelo próprio (estimado com base em diversos pressupostos, a que voltarei noutra ocasião), os autores evidenciam os seus resultados privilegiando o original modo de calcularem o número de anos que levaria a que os países da Zona Euro sob maior pressão conseguissem reduzir o seu défice público para os 90% sugeridos por Reinhard e Rogoff (limiar de sustentabilidade ou aceitabilidade).

A evidência é assustadora: para reduzirem os seus rácios de dívida para aquele nível, todos os países em causa ficariam condenados a uma longuíssima extensão da austeridade (no caso representada pelo montante de 1% do PIB de contenção orçamental anual), com os 22 anos sentenciados para Portugal (contra um período de 10 a 20 anos para os restantes) a destacarem a nossa situação pela mais triste das negativas.

Mas este é apenas um elemento adicionalmente comprovativo da justeza da argumentação que “esta gente” dogmaticamente se recusa a ter em conta (porque, sim caro leitor, entendeu bem aquela coisa acima dos 22 anos à nossa frente...). Como se pode ler no relatório acima citado: “Todavia, o ponto mais importante é que, apesar de a austeridade ter contribuído para trazer os défices orçamentais para baixo, a maioria dos países periféricos da Zona Euro precisará de obter excedentes orçamentais substanciais para evitar que os seus níveis de dívida continuem a crescer e, finalmente, para os fazer baixar para níveis sustentáveis. E a grave implicação disto é que, se os países pretenderem continuar a confiar largamente ou unicamente na austeridade por forma a escaparem ao fardo das suas dívidas, eles terão uma terrível quantidade de trabalho adicional para fazer.”

O que mais estará reservado para acontecer a este arrasado País?

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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