quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A FAMA DE FAMA



Tal como previa, os ecos da conflitualidade sobre a atribuição do Nobel de Economia este ano perduram na imprensa especializada e na blogosfera, centrados sobretudo no confronto Fama versus Shiller, já que o trabalho sobre métodos empíricos de Lars Hansen foge um pouco a esse registo, tratando-se de uma técnica de análise de movimentos de preços que permite compensar a não disponibilidade de alguns tipos de informação.
No New YorkTimes (Binyamin Appelbaum) de 14 de outubro, foi publicado um artigo que introduz essa conflitualidade reconhecida pelo Nobel, e não se trata de uma conflitualidade qualquer pois o confronto entre as teses de Fama e de Schiller tem consequências, por exemplo, na redução ou reforço de processos de regulação dos mercados financeiros.
John Cassidy (no Rational Irrationality da NewYorker), autor em 2010 de uma das mais interessantes entrevistas a Fama no coração da Universidade de Chicago, voltou à questão com uma provocadora “The Inefficiency of the Market Isn’t an Open Question”. Cassidy lembra e bem que o contributo de Fama foi o de transformar o conceito padrão de “mercados eficientes”, assumindo uma espécie de “eficiência fraca”, baseada na ideia “de que são eficientes se os preços refletirem toda a informação passada que seja relevante para o mercado, tais como a história dos movimentos dos preços”. Analisa depois criticamente a aplicabilidade deste conceito de eficiência a várias situações e modalidades de mercados financeiros para tentar demonstrar a valia das teses contrárias de Shiller, construídas sobre evidências de irracionalidade que Fama e seguidores negam ou racionalizam.
A síntese de Justin Wolfers (Universidade de Michigan e Bloomberg View é invocada: “Com uma pequena latitude, pode sintetizar-se o prémio, sugerindo que os mercados financeiros são eficientes (Fama), exceto quando o não são (Shiller) e que temos evidência empírica para o provar (Hansen)”. É mesmo isto, mas o que pode discutir-se, e esse é o mérito de Cassidy, é questionar que implicações terá para a regulação das bolhas de crédito a atribuição do Nobel nestas condições. E não é seguro que seja aquela que o evitar de processos como o de 2008 recomendaria.

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