O Professor Marcelo, no alto da sua perspicácia e
perante uma deslumbrada Judite, dizia no domingo à noite que desta vez
compreendia a eventual decisão de Cavaco de não solicitar ao Tribunal
Constitucional a fiscalização preventiva do Orçamento Geral do Estado de 2014.
Seguindo por essa via e admitindo o mais que provável chumbo do TC a algumas
normas do Orçamento, o resultado dessa consulta concretizar-se-á já demasiado
em cima do fecho do programa de ajustamento, constituindo o grande pretexto
para dar como consumado o que gente sensata e pragmática considera ser
praticamente impossível, isto é, cumprir a meta dos 4% do défice público face
ao PIB, dados os enormes pontos percentuais de descida que estariam em jogo (2
e pico pontos percentuais).
Ou seja o que Marcelo pensa é que Cavaco terá
compreendido que a melhor forma de combater o muro inabalável da Troika é um
misto de esperteza portuguesa e de respeito pelas deliberações do TC. E pensa
mais que isso também poderá interessar à Troika e sobretudo à Comissão Europeia
que, apertada entre a sua reverência aos ditames dos mercados financeiros e não
querer admitir que toda a sua estratégia de ajustamento foi um completo
falhanço, também não enjeita este pretexto para encerrar o processo e
equacionar outras frentes de intervenção.
Ou seja, estamos numa completa farsa e no mais
rocambolesco faz de conta. Mas ninguém parece dar importância à incerteza e
indeterminação que tal esperteza provocará sobre uma faixa significativa da
população portuguesa que viverá mais uns meses atormentada com o que lhe pode
cair em cima a partir do mês de janeiro do próximo ano. Ninguém de facto parece
importar-se com a formação das expectativas de rendimento por parte dos
cidadãos para o próximo ano. Para toda esta gente isso é matéria secundária.
E para ajudar a toda esta grande farsa, o
ministro Pires de Lima em road show
pelos mercados londrinos a glorificar a resiliência da economia portuguesa,
sobretudo das suas principais empresas exportadoras, que está no seu papel e
raio de ação, vem falar de que Portugal está a preparar o seu programa cautelar
para assegurar o pós Troika. Ou seja tiros para o ar, com a Comissão Europeia a
desmentir tal preparação, Passos Coelho calado que nem coelho escondido em toca
bem segura, o pequenino Moedas a reclamar que Portugal precisa de um seguro
para regresso aos mercados.
Uma grande farsa, sem roteiro nem direção de
cena.
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