Incontornável que eu também aborde
aqui a entrevista de José Sócrates ao último “Expresso”. O que passo a fazer em
quatro brevíssimos tempos.
O primeiro será para dizer que a
leitura me proporcionou alguns minutos agradáveis. E não só por reconhecer nela
variados elementos que há muito tenho por definidores da personalidade do
anterior primeiro-ministro, mas também por nela encontrar uma confirmação pelo
próprio de componentes da explicação que tenho por verídica à volta de
acontecimentos historicamente relevantes que ocorreram durante o seu mandato
(pedido português de resgate à cabeça).
Um segundo apontamento vai para um
aspeto que os comentadores (televisivos, jornalísticos, partidários e de rua)
não cessam de suscitar, quase sempre implicitamente: a comparação (por vezes,
mistura) entre Sócrates e Passos. Ao invés, e conceções e ação política à
parte, o que mais se me afigura é estarmos em presença de um homem que exibe
exuberantemente várias das principais caraterísticas identificadoras de um
cidadão completamente orientado para a intervenção e a coisa pública (nem todas
necessariamente positivas, aliás) versus de um menino que se gasta em
tentativas inconsequentes ora de se ir fazendo notar enquanto extasiado ocupante de São Bento ora de ir disfarçando as tropelias e malandrices que é malevolamente conduzido a realizar ou subscrever.
Terceiro ponto: ao contrário de
outros, não saí convencido de que Sócrates seja integralmente sincero quando
afirma que “não sinto nenhuma inclinação por voltar a depender do favor
popular”, o que equivale a dizer que nunca cederá de livre vontade aos proclamados
encantos da privacidade e da vida académica e profissional. Mas acrescentarei
ainda que, se de justiça estivéssemos a tratar, talvez que uma oportunidade
compatível lhe viesse a ser autorizada no quadro do PS e deste País tão afogado
em covardia e mediocridade.
Por fim, uma reflexão de diferente
natureza e alcance. Sócrates tem a hombridade de por a nu as lacunas que foi
sentindo e ostentando ao longo do seu exercício enquanto chefe de governo,
algumas quase chocantes até. No entanto, e para não voltarmos a falar dessa
inexistência chamada Passos, chamemos à colação os seus antecessores mais
próximos (Cavaco, Guterres, Durão e Santana) e perguntemos com total
propriedade: quem poderá justificadamente atirar-lhe pedras sem receber um
ampliado retorno? Porque a questão é outra e só terá arremedos mínimos de
solução quando formos capazes de focar devidamente a política enquanto
carreira...
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