terça-feira, 22 de outubro de 2013

UM NOVO SÓCRATES?

(André Carrilho, http://www.dn.pt)

Incontornável que eu também aborde aqui a entrevista de José Sócrates ao último “Expresso”. O que passo a fazer em quatro brevíssimos tempos.

O primeiro será para dizer que a leitura me proporcionou alguns minutos agradáveis. E não só por reconhecer nela variados elementos que há muito tenho por definidores da personalidade do anterior primeiro-ministro, mas também por nela encontrar uma confirmação pelo próprio de componentes da explicação que tenho por verídica à volta de acontecimentos historicamente relevantes que ocorreram durante o seu mandato (pedido português de resgate à cabeça).

Um segundo apontamento vai para um aspeto que os comentadores (televisivos, jornalísticos, partidários e de rua) não cessam de suscitar, quase sempre implicitamente: a comparação (por vezes, mistura) entre Sócrates e Passos. Ao invés, e conceções e ação política à parte, o que mais se me afigura é estarmos em presença de um homem que exibe exuberantemente várias das principais caraterísticas identificadoras de um cidadão completamente orientado para a intervenção e a coisa pública (nem todas necessariamente positivas, aliás) versus de um menino que se gasta em tentativas inconsequentes ora de se ir fazendo notar enquanto extasiado ocupante de São Bento ora de ir disfarçando as tropelias e malandrices que é malevolamente conduzido a realizar ou subscrever.

Terceiro ponto: ao contrário de outros, não saí convencido de que Sócrates seja integralmente sincero quando afirma que “não sinto nenhuma inclinação por voltar a depender do favor popular”, o que equivale a dizer que nunca cederá de livre vontade aos proclamados encantos da privacidade e da vida académica e profissional. Mas acrescentarei ainda que, se de justiça estivéssemos a tratar, talvez que uma oportunidade compatível lhe viesse a ser autorizada no quadro do PS e deste País tão afogado em covardia e mediocridade.

Por fim, uma reflexão de diferente natureza e alcance. Sócrates tem a hombridade de por a nu as lacunas que foi sentindo e ostentando ao longo do seu exercício enquanto chefe de governo, algumas quase chocantes até. No entanto, e para não voltarmos a falar dessa inexistência chamada Passos, chamemos à colação os seus antecessores mais próximos (Cavaco, Guterres, Durão e Santana) e perguntemos com total propriedade: quem poderá justificadamente atirar-lhe pedras sem receber um ampliado retorno? Porque a questão é outra e só terá arremedos mínimos de solução quando formos capazes de focar devidamente a política enquanto carreira...

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